domingo, 5 de setembro de 2010

Roma - A PAX




"Na luta de gladiadores deploramos os que, tímidos e suplicantes, imploram pela vida; os valentes e animosos, que se oferecem tempestuosos à morte, destes gostamos de conservar a vida"
 (Cícero - Pro Milone, c. 34)


Os povos que habitaram o Lácio foram no seus primórdios conquistados pelos etruscos, militarmente mais fortes, que  implantaram sua soberania por toda a região e com sua exuberante cultura habitaram o norte da península itálica na região que hoje denominamos Toscana.  Esses invasores do mediterrâneo na Idade do Bronze vieram para controlar as rotas de navegação, colonizar terras, cometer atos de pirataria e fazer o comércio. Com a decadência dessa misteriosa civilização descendente dos "Povos do Mar"vindos da Ásia, conforme pensam alguns estudiosos, e que por fim se estabeleceram na região, os romanos foram dominando os povos vizinhos e junto com os etruscos estabeleceram uma poderosa confederação. Com uma presença e a influência nem sempre pacifica dessa cultura mais desenvolvida, puderam os romanos posteriormente expandir as suas fronteiras e firmar as bases do seu imenso império. Portanto herdaram em seus costumes muito da cultura etrusca que absorveram e cooptaram. É com segurança que podemos afirmar que desse povo considerado licencioso pelos gregos e latinos foi que  os romanos herdaram as práticas de promover lutas entre gladiadores: em efeito, entre os etruscos estas lutas costumavam fazer parte de sacrifícios fúnebres de pessoas da elite dominante, para aplacar os deuses, como uma manifestação religiosa, ou conforme a interpretação, como uma "diversão" realizada com prisioneiros de guerra, um ritual antropofágico velado depois evoluído para o combate singular.

A forte ligação dos etruscos com seus cerimoniais fúnebres possibilitou o estudo de sua civilização através das tumbas descobertas pelos arqueólogos até recentemente. Os afrescos encontrados representam com todas as cores o terror que a morte causa para o homem em todas as épocas, independente de sua classe social, como destino irremediável de todos. O afresco mais célebre, descoberto  em 1857 na famosa Tumba François  encena um dos episódios mais trágicos da guerra de Tróia: os prisioneiros troianos sacrificados por Aquiles. A esquerda do afresco a deusa alada Vanth tem suas asas abertas. Um pouco mais à esquerda, Pátroclo, na condição de alma desencarnada, protegido pelas asas da deusa infernal assiste ao sacrifício. Tem o ar dolorosamente indolente, como convém aos heróis que são honrados mas que já não participam dos combates dos mortais. Aquiles, meio curvado sobre a outra asa de Vanth, degola um troiano extenuado e quase exangue, acocorado ao seus pés, ante o olhar imperturbável e sem paixão da divindade. Chegado o momento ela corta impassível o fio da vida daqueles que lhe são outorgados. Aquiles é enérgico de fisionomia e de gestos. Com o braço esquerdo segura firmemente sua vítima pela cabeleira. Com o direito, enfia a espada no seu pescoço.


Detalhe do Afresco


O demônio Caron, que ocupa quase o centro do mesmo afresco expõe sua feia careta segurando um martelo de duas cabeças. Seu nariz adunco encima sua boca rasgada. Seu pescoço é possante e espesso como poderia ser representado um monstro infernal do seu quilate. No olhar vagamente glauco, a pupila se fixa perto do nariz e isso dá ao conjunto do rosto uma expressão de felonia e crueldade. Mas, para realçar o horror que inspirava entre os mortais essa figura que emana das profundezas do Inferno, Caron veio expressamente para acompanhar e presidir ao sacrifício. Suas faces e seu nariz são manchados por equimoses cadavéricas. Guerreiros, à direita arrastam prisioneiros nus. Há nesse afresco o sentido da morte iminente difícil de ser encontrada em outras tumbas etruscas similares. O ritual de morte, a idéia de absorção ritualística da vítima através da ira de Aquiles para aplacar o espírito do parente vencido por Heitor, transmitem o conceito que os povos antigos participavam sobre os inimigos que viviam além dos seus domínios. De direito não deveria haver mercê ao inimigo enquanto deveria ser pranteado e lembrado o parente do clã com todas as honras finais em seu culto de morte. Esse era o pensamento dominante na época, sem falsos pudores ou inibições, suas regras de conduta eram ditadas exclusivamente pela sobrevivência de seu grupo familiar, comunidade e cidade estado. 


Cópia do Afresco
Foram os etruscos que legaram posteriormente, quando os romanos ainda no seu alvorecer viviam em pequenas aldeias isoladas de pastores e ladrões, sem rumo nem governo, a ideia de estabelecer um império e a organização necessária para ser dado o pontapé inicial para suas conquistas continentais após quase cem anos de confrontos diretos entre as duas culturas, e então finalmente os etruscos foram vencidos e incorporados à nova força em expansão. De seus antigos costumes legados aos romanos, as sangrentas apresentações do circo e do coliseu aos poucos perderam o sentido religioso arcaico e assumiram um sentido profano de divertimento, mas não as tornaram menos mortais. A primeira menção do circo remonta ao tempo de Rômulo, isto é, da formação mítica da cidade estado, que segundo contam mandou construir junto do foro. Tarquínio, seu rei etrusco denominado o Antigo, mandou construir um outro chamado o Grande Circo, entre o Palatino e o Aventino. Tinha três estágios e meio de comprimento (664 metros), quatro jugera (280 metros) de largura e tinha capacidade para cento e cinquenta mil pessoas, quando Julio Cesar o ampliou passou a conter cento e sessenta mil pessoas e enfim quando Trajano o mandou reconstruir passou a receber trezentos e oitenta mil assistentes. O circo era destinado especialmente às corridas que tinham admiradores ferrenhos que como hoje deixavam extravasar a violência e se enfrentavam com punhais e bastões em defesa das suas cores preferidas de cavaleiros e bigas. Eram nos anfiteatros, duas plateias reunidas em sentido oval cercando a arena, onde ocorriam as lutas de gladiadores e os espetáculos com animais. Ao redor da arena ficava o podium, o lugar privilegiado onde sentavam os magistrados e altos funcionários, logo atrás deles ficavam os cavaleiros e depois o povo. Foi somente no reinado de Augusto que se construiu um anfiteatro permanente; depois Vespasiano e Tito edificaram no ano 72 d.C., o Coliseu, estrutura que ainda sobrevive em Roma.         


Nas exéquias dos poderosos entre romanos e etruscos eram frequentes os sacrifícios humanos, que eram realizados sobre os túmulos para honrar aos manes, suas divindades infernais, as almas dos mortos e aos Dii Inferi, os deuses do inframundo. Os primeiros combates de gladiadores em Roma, conforme era a tradição etrusca, também foram dedicados aos espíritos dos mortos. Marco e Décio Bruto foram os primeiros em Roma a fazer combater gladiadores sobre o túmulo de seu pai. Os três filhos de Emílio Lépido fizeram combater onze pares no foro durante três dias; depois os filhos de Valério Levino, vinte e cinco e com o passar do tempo o número só foi aumentando. No ano 45 a.C. Julio Cesar celebrou o primeiro combate em honra de uma mulher; sua filha Julia, fornecendo setecentos e quarenta gladiadores. Foi relatado pelos cronistas da época que no ano 41 a.C. nos idos de Março, Otávio Augusto, primeiro imperador romano, sacrificou 300 homens em consagração do divinizado Julio Cesar. Tito, as delícias do gênero humano, deleitou-se em fazer durar cem dias os combates, e Trajano colocou dois mil combatentes durante cento e vinte três dias sangrentos. Em tempos mais turbulentos, Nero fez combater na arena quatrocentos senadores e quinhentos cavaleiros e o próprio Comodo se ufanava de descer na arena para o combate. Marco Aurélio tentou em vão que as armas fossem embotadas para evitar as mortes, mas o povo exigia sangue nos espetáculos.


"Munus Gladiatorium" conclamam os arautos. Serão oferecidos como dádiva gladiadores ao povo. O edil recém empossado agraciará a todos por sua eleição ao cargo oferecendo-lhes cinquenta pares de homens dispostos a degolarem-se com seus gládios. Com o anúncio do espetáculo a multidão se move em direção ao anfiteatro. Cheios de euforia, todos esquecem naquele dia os irmãos que morrem em países distantes, sob a espada dos bárbaros ou sob as máquinas mortíferas de Cartago ou Corinto; esquecem a fome que ronda e de que desnutritos possivelmente amanhã encontrarão o seu certo destino, apenas amanhece a turba se precipita em direção ao espetáculo. Seus senhores, que o povo domina com seus tumultos enquanto no foro e serve humildemente como clientes em suas casas, para ali se dirigem em hora mais propícia, sem atropelos; depois chegam as belas matronas, que passaram horas em frente ao toucador para realçar seus encantos, encobrindo as injúrias do tempo e os sinais de seus excessos. Finalmente aparece o patrono, que oferece os jogos, garantia pessoal da gratidão do povo romano que recompensará sua prodigalidade com um cargo de consul ou questor. Então rebentam os aplausos.


Mas por que tardam a entrar os gladiadores? Um murmurio impaciente se faz ouvir entre os assistentes. A ansiedade percorre a plateia tumultuada. Ei-los finalmente! Marcham em passos vigorosos para o centro da arena para deleite do público que admira suas formas musculosas, a disposição de suas armas e a marcial arte de suas posições hercúleas. 


Começa o espetáculo. Em principio se batem com armas inofensivas (arma lusoria) e com seus simulacros demonstram, sem perigo, sua habilidade em atacar e defender os golpes. Termina enfim a atividade lúdica, que já impacienta a platéia sedenta de sangue. O duro ferro substitui os brinquedos, as verdadeiras espadas e lanças se cruzam, os ânimos fervem entre os combatentes em escala crescente, os golpes se tornam cada vez mais mortais, o povo ulula a cada golpe certeiro, com ávida ansiedade aplaude cada ferimento, contusão ou jorro de sangue.


Um dos combatentes é seriamente ferido e passa a retaguarda, vencido, levanta o dedo em pedido de misericórdia. Depende dos caprichos da assistência a vida e a morte dos gladiadores. Se demonstrou coragem na luta, se demonstrou generoso desprezo pela morte, os assistentes concedem-lhe a vida, para que possa sobreviver e participar de outro espetáculo para seu divertimento. Caso contrário, por qualquer mudança de humor, a volúvel platéia pode querer colocar à prova a constância do vencido, e exigir por divertimento ver exalar os últimos suspiros de seu peito, os estertores convulsos de um corpo que a vida abandona na flor da idade. Com a mão fechada volta o polegar para o suplicante e decreta o seu suplício - Recipe ferrum - e seu algoz, o vencedor, obedecendo a ordem das massas degola sem piedade o vencido. 


As trompas anunciam a morte do contendor que é arrastado para o Spoliarium, onde o vencedor despoja o vencido de suas armas e roupas e termina o massacre caso o moribundo por azar ainda esteja vivo. No mesmo instante corre um epilético para beber o sangue que escorre das feridas do morto. Conforme acreditam trata-se de remédio infalível para os ataques de sua terrível moléstia. O vencedor recebe uma coroa de lentisco com um ramo de palmeira e, com fortuna, algumas vezes recebe de seu dono a liberdade. Para esses que representam nos jogos os heróis ancestrais, mesmo  com efémera glória e para o homem ilustre que patrocinou os espetáculos os aplausos da turba são a imortalidade, assim como para os vencidos a reprovação da assistência é a certeza da morte. 


Os criminosos eram castigados desde os primórdios de Roma conforme o deus que haviam ofendido com sua falta. Um transgressor da lei era imolado para restaurar a ordem divina que havia sido quebrada com seu crime, pois os romanos consideravam que as leis emanavam diretamente dos deuses e quem as infringia violava prescrições sagradas. Assim um ladrão de trigo era enforcado como sacrifício à Ceres, deusa da agricultura. Nas legiões romanas essas punições eram comuns. Em 46 a.C. Julio Cesar fez sacrificar dois soldados no Campo de Marte como castigo  por rebelião. A virgens vestais, guardiãs do Fogo Sagrado, descumpridoras de seus votos de castidade eram queimadas vivas. 


Os devedores não tinham tratamento menos cruel. Confessada a dívida e julgada a causa eram concedidos trinta dias de espera para que o devedor a saldasse. Passado o prazo o devedor era preso e levado novamente a juízo. Ao anoitecer, com o fechamento do tribunal, se não houve pagamento e ninguém respondeu por sua dívida, o credor o conduzia consigo atado por cordas ou cadeias que não pesassem mais que quinze libras. O prisioneiro se sustentava por conta, ficando facultado ao credor, conforme sua vontade, lhe dar ou não uma libra de farinha por dia. Se ele não pagasse o débito, o credor podia mante-lo cativo por sessenta dias, e ao fim desse prazo  levava o cativo ao mercado por três dias proclamando a dívida ao público. Na terceira publicação, se tinha muitos credores, podiam cortar o devedor em pedaços, e dividi-los entre si. Se quisessem podiam vende-lo, porém sempre além do Tibre. O credor podia sem medo algum cortar à vontade a carne de seu devedor.  Se um dos credores não ficava satisfeito conservava seu direito e podia mutilar ou matar o devedor.       


As Saturnálias eram festividades de origem estrangeira que segundo os romanos tinham suas origens nos primórdios de Roma e acreditava-se que era dos pelasgos, povo que habitava a Grécia, de onde os latinos tinham adotado esse costume. De origem pastoril e agrária o deus Saturno segura a foice da colheita. É a esse deus que se atribuí a invenção do enxerto, o cultivo das árvores frutíferas e o ensinamento de todos os métodos da agricultura. Mesmo os cireneus quando lhe ofereciam sacrifício coroavam-se de figos frescos e lançavam-se mutuamente favos, por que eles consideravam dever a Saturno o mel e o cultivo das frutas. Durante as festividades os papéis eram invertidos e escravos e senhores trocavam de posição. Sobre as várias origens aventadas pelos romanos conta Varrão que os pelasgos expulsos dos seus lares, espalharam-se pelas diversas regiões, mas a maior parte se reuniu em Dodona e lá o oráculo lhes deu a seguinte resposta: "Ide procurar a terra dos sicilianos, consagrada a Saturno, e dos aborígenes, Cotylê, onde flutua uma ilha, e quando vós tiverdes tomado posse, oferecei o dízimo a Febo, as cabeças a Hades, e a seu pai os homens. Tendo recebido esse oráculo, aportaram no Lácio após numerosos cursos errantes e encontraram uma ilha saída do meio do lago de Cutília. Trata-se de uma imensa relva, resultado da acumulação de limo e detritos ou formada de um charco que se tornou compacto, repleto de um mato que brotou livremente como uma floresta que flutuava e balançava pelas ondas. À vista desse prodígio, eles acreditaram que era esse o cumprimento do oráculo. Expulsaram os sicilianos que ali habitavam, ocuparam a região, consagraram a Apolo o dízimo do saque conforme ordenado pelo oráculo, ergueram um santuário a Diis Inferi e um altar a Saturno, de onde proveem o nome da festa.


Durante muito tempo consagraram as cabeças dos inimigos capturados ao deus Hades, para torná-lo favorável e imolavam a Saturno os homens conforme a promessa feita ao oráculo. Porém, mais tarde, diz a lenda, Hércules, atravessando a Itália com o rebanho de Gerião, aconselha os seus descendentes a trocarem esses sacrifícios funestos por outros de mais feliz augúrio e oferecer a Diis Inferi não as cabeças humanas, mas pequenas figuras em que fosse reproduzida a imagem humana e honrar os altares de Saturno não imolando um homem, mas acendendo archotes pois o termo em grego pode ser relativo aos dois sentidos. Daí o costume de se ofertar, durante as Saturnálias, velas de cera.


Isso entretanto não impediu que os romanos por volta de 226 a. C. enterrassem vivos dois gauleses e dois gregos para desfazer a profecia de que os gauleses e os gregos em breve ocupariam a cidade de Roma. Incidentes similares ocorreram em 216 a. C. e em 104 a. C. 


Com a expansão do império e a partir da influência das religiões orientais que invadiam Roma como os cultos à Ísis, Mitra e Baco e mais tardiamente o culto ao Cristo que tinham ampla aceitação entre os romanos, os sacrifícios humanos aos poucos deixaram de identificar-se exclusivamente com a justiça penal ou a religião oficial, e pessoas inocentes passaram a ser sacrificadas com o único propósito de angariar os favores dos deuses estrangeiros, como sempre  ocorria na Antiguidade, desde tempos imemoriais. Da etrúria os cultos à Dioniso (Baco), trazidos por um sacerdote grego, se propagaram como um incêndio por Roma. No início com poucos adeptos, logo estendeu-se a um grande número de homens e mulheres de  todas as classes indistintamente. Em orgias noturnas regadas a vinho e farta comida os homens e mulheres se entregavam à suas paixões favoritas. O comércio de sexo e de pessoas de todas as idades e os crimes que se cometiam eram ocultos pelo barulho elevado dos tamborins e dos címbalos que ocultavam os gritos das vítimas, enquanto se atentava contra sua honra ou a sua vida. Os que demonstravam repugnância ao sofrer aquelas infâmias ou pouco empenho em se entregar às práticas eram imolados como animais para o sacrifício. Não ter nenhum ato como sacrílego representava nesse meio o auge da perfeição religiosa e na época dos acontecimentos para os cidadãos romanos eram tais manifestações consideradas grave ofensa à religião romana tradicional. Atribuía-se aos deuses, durante os rituais, o desaparecimento dos infelizes que eram jogados atrelados a máquinas, nos subterrâneos secretos. Era essa a sorte para quem não queria ligar-se aos outros pelo juramento, associar-se aos seus crimes ou prestar-se à devassidão, conta Tito Lívio. Uma imensa multidão de iniciados nesses "mistérios" formavam um segundo povo em Roma, entre eles os homens e as mulheres da nobreza. E era mais entre sí que os homens se entregavam a devassidão do que com as mulheres. Depois de dois anos dos cultos introduzidos foi estabelecido pelos "iniciados" que não se admitiria ninguém acima de vinte e dois anos, pois era mais fácil convencer os mais jovens a adotar seus costumes sexuais exóticos. O número dos conjurados ultrapassava sete mil pessoas de ambos os sexos. Os fundadores daquele culto foram presos e severamente punidos, confessaram tudo e não tardaram em denunciar seus cúmplices.


Para impedir que sacrifícios ocorressem em cultos de toda a ordem que invadiram Roma, Adriano que foi imperador entre 117 e 138 d. C. acreditou conveniente renovar o interdito do Senado sobre o assunto em função dos ouvidos surdos que fazia a sociedade romana a respeito do tema. Seus sucessores no entanto nem sempre acompanharam sua orientação. O sanguinário imperador Comodo que reinou entre 180 e 192 d. C. resolveu voltar às origens o culto de Mitra  e em vez de um touro sacrificou seres humanos em honra ao deus oriental. Heliogábalo que fez um curto império de 218 a 222 d. C. mandava buscar por toda Itália aos meninos mais formosos, pertencentes as familias mais nobres, para sacrificá-los. Nascido em Emesa, na Síria, era por herança de sua mãe sumo sacerdote de Baal, conhecido em sua terra como Elah-Gabal, deus do Sol e adorado sob a forma de um monólito negro, que provavelmente era um meteorito. Ao ser nomeado imperador levou para Roma a pedra sagrada que foi depositada no Palatino, onde iniciou seus sacrifícios sanguinários renomeando o deus de Sol Invictus, e consagrando-o como divindade suprema do império que era homenageada com o sacrifício de crianças. Com o tempo tais costumes foram aos poucos sendo abandonados pelos interditos e com a adoção da religião cristão foram então proibidos em definitivo pelos imperadores, foi quando surgiu uma nova forma de terror: os pagãos passaram a ser as vítimas dos fanáticos religiosos na nova crença da boa vontade e do amor ao próximo, e seus templos milenares foram destruídos pelas turbas cristãs sem perdão.      


Montesquieu lembra em sua obra “Grandeza e Decadência dos Romanos” como mantinham com suas estratégias o poder entre os antigos colocando-os a sua mercê pois acreditavam possuir um mandato divino para subjugar todas as nações. Apesar das campanhas por dominação já terem sido empreendidas por outros povos como os egípcios persas e macedônios, que estabeleceram conflitos com seus vizinhos visando vantagens comerciais e mão de obra escrava em guerras de caráter secundário, foram os romanos que levaram este tipo de guerra a sua culminância no mundo antigo a ponto de unificarem boa parte do mundo euro-asiático muito antes de qualquer outra nação e conseguirem manter por um longo período sua hegemonia efetiva, cuja influência cultural em todos os sentidos acontece até hoje.


Numa sociedade dividida entre patrícios e plebeus, a institucionalização da escravidão fazia com que os nobres pudessem, como nas outras sociedades antigas, passar sem a mão de obra dos plebeus, que assim se viam privados dos meios diretos de adquirir riquezas e poder. Entretanto é  certo que os patrícios se servissem deles para formar exércitos ou derrubar os governantes conforme seus interesses. Em seus primórdios, com seiscentos e cinquenta mil habitantes aglomerados no pequeno território de Roma, com 130 mil indivíduos capazes de pegar em armas, sem outra origem de ganho, além dos campos e o roubo, e rodeados de inimigos que, durante as guerra sempre frequentes roubavam as cabanas e devastavam as terras por consequência obrigavam os plebeus a ficar a merce dos poderosos. Por isso, quando sobrevinha a fome, uns se vendiam, outros emigravam; alguns preferiam se precipitar no rio. Assim como os patrícios sacerdotes sabiam distrair a plebe ocupando-a em construções de templos sagrados, os patrícios guerreiros ocupavam as populações com o concerto da guerra permanente. Como foi registrado na história, pelo fim do séc. XIX, ficou também a República Francesa obrigada, para sustentar sua existência, a enviar para a fronteira e para o exterior novos exércitos, da mesma forma, a República Romana dirigida pelos patrícios, para protelar as reformas sociais necessárias para apaziguar sua população excedente de plebeus, impelia o país para guerras intermináveis.


Após dezesseis anos de lutas sanguinolentas e expansão contínua de limites, ouviu-se entre o povo romano que se pretendia uma nova campanha contra Felipe da Macedônia. As trinta e cinco tribos que compunham a comunidade romana em conselho rejeitaram o novo conflito. Entretanto importava ao senado romano manter o estado beligerante que tanto poder havia proporcionado à  seus integrantes pela guerra permanente. Convinha aos senadores que os filhos pouco dóceis destes antigos plebeus elevados a cidadãos, que conservaram a lembrança do Aventino e do monte Sagrado, morressem combatendo e cedessem seu lugar aos latinos, aos italianos e aos libertos, populações recentemente assimiladas e portanto mais fáceis de governar. Por fim conseguiram começar as hostilidades e pelas dificuldades naturais da campanha não foram poucas as perdas de constritos. É da cultura latina que herdamos a ideia do herói que dá seu sangue pela pátria, como esforço hercúleo, que após o derradeiro sacrifício que lhe redunda a morte pode pretender sua imortalidade junto aos campeões do panteão romano. 


Roma na sua plenitude e poder escreve Montesquieu “erigiu-se no tribunal de todos os povos: ao final de uma guerra, decidia os castigos e as recompensas que cada qual merecera. Tirava uma parte do domínio do povo vencido para dá-la aos aliados. Com isso, fazia duas coisas: ligava a Roma reis de que ela tinha pouco a temer e muito a esperar, e enfraquecia aqueles de quem nada tinha a esperar e muito a temer”.


“Os aliados eram usados para fazer a guerra a um inimigo; primeiro porém, destruíam-se os destruidores. Filipe foi vencido com a ajuda dos etólios, aniquilados por se terem juntado a Antíoco. Antíoco caiu graças ao apoio dos ródios; mas estes, depois de receberem brilhantes recompensas, viram-se humilhados para sempre, a pretexto de que haviam pedido que se fizesse a paz com Perseu”.


Com a derrota de Perseu, o último rei da Macedônia, foi organizado um triunfo para Paulo Emílio, o cônsul que havia derrotado e aprisionado o soberano. O triunfo era o apogeu máximo que um general poderia almejar na Roma Republicana. Durante o triunfo o chefe militar recebia a adulação do povo romano e se candidatava ao papel de herói da pátria que só seria consumado com sua morte na inclusão de seu nome nos anais da cidade. O soberano macedônio derrotado ainda implorou ao vencedor não ser levado em cortejo aguilhoado ao carro da vitória. "Isso está nas suas mãos" - respondeu o Cônsul, sugerindo que o rei terminasse com a própria vida. Porém Perseu não teve coragem para consumar o ato e ornou com seu infortúnio um dos maiores triunfos que se tinha visto até então. A pompa durou três dias. No primeiro, mil e duzentos carros desfilaram carregados de escudos de prata maciça, e mil e duzentos outros de escudos de bronze; trezentos outros continham lanças, espadas, arcos e dardos; eram precedidos por homens que levavam armaduras de bronze ou estátuas. No segundo dia desfilaram carros com mil talentos de ouro e prata cunhada, dois mil e duzentos em barras; um número infinito de taças; quinhentos carros carregados de estátuas grandes e pequenas; depois viam-se escudos de ouro e muitas estátuas das galerias reais; no terceiro dia, enfim, desfilaram cento e vinte bois da maior brancura, duzentos e vinte vasos de prata, uma urna de dez talentos de ouro, ornada de pedras preciosas, e dez outros vasos cheios de diversos objetos também de ouro; dois mil dentes de elefantes, de três cúbitos; um carro de marfim, guarnecido de ouro e de pedras preciosas; um cavalo com seu colar semeado de pérolas e o resto do arnês de ouro, com coberturas de diversas cores; uma liteira de ouro e púrpura; quatrocentas coroas, com que as cidades tinham presenteado o vencedor. Enfim, em um magnífico carro branco, aparecia o triunfador. Atrás dele vinha Perseu, vestido de luto, rodeado de duzentos e cinquenta amigos, em correntes, de dois filhos e uma neta, à qual os que a conduziam ensinavam a estender as mãos inocentes ao povo romano, para invocar sua compaixão, ou melhor, para adular a vaidade do povo em delírio expondo a miséria que o poder de Roma podia reduzir os monarcas. O rei foi depois jogado em um cárcere infecto de onde os prisioneiros seguiam para o suplício, deixaram-lhe lá sete dias sem levarem alimentos. Os outros infelizes prisioneiros se apiedaram do rei e dividiram com ele os poucos alimentos de péssima qualidade que recebiam. Os carcereiros lhe ofereceram mais uma vez um laço e uma faca, porém ele novamente renunciou de tirar a própria vida. O cônsul conseguiu junto ao senado que ele fosse transferido para uma prisão mais conveniente, porém, ao fim de dois anos, como os guardas por diversão não lhe permitissem dormir, veio a falecer enfraquecido. Poetas, historiadores e oradores exaltaram na época o povo romano, por ter vingado os troianos, de quem acreditavam descender, na morte do último rei dos eácidas, considerado pelo mito como descendente direto de Aquiles,  elevando às nuvens o grande povo, que esmagava os soberbos, perdoava os vencidos e protegia os mais fracos.


E Montesquieu prossegue: “Quando se viam a braços com diversos inimigos, concediam trégua ao mais fraco, que se sentia feliz em obtê-la e imaginava ter adiado sua ruína”.

“Em se tratando de uma grande guerra, o Senado dissimulava toda a sorte de injúrias e esperava em silêncio que chegasse o tempo da punição. Se um povo lhe enviava os culpados, recusava-se a castigá-los, preferindo considerar criminosa a nação inteira e reservar-se uma vingança útil”

“Como os romanos fizessem aos seus inimigos males inconcebíveis não se formavam ligas contra eles: aquele que se achava bem longe do perigo não gostaria de aproximar-se”.

“Por isso, raramente recebiam a guerra, mas moviam-na quando, como e com quem lhes fosse conveniente; e, dos muitos povos que atacaram, poucos há que não haveriam sofrido toda a sorte de injúrias se se quisesse deixá-los em paz”. 

“Sendo seu costume falar sempre como senhores, os embaixadores que mandavam para os povos que ainda não tinham sentido o peso do seu poderio eram fatalmente maltratados, o que constituía um pretexto seguro para uma nova guerra”.

“De vez que jamais concertavam a paz de boa fé, e que, no desígnio de tudo invadir, seus tratados não passavam propriamente de suspensões da guerra, inseriam neles condições que iniciavam a ruína do Estado que as aceitava: exigiam a retirada das guarnições das praças-fortes, limitavam o contingente das tropas de terra ou ordenavam a entrega de cavalos e elefantes; caso o povo fosse poderoso no mar, obrigavam-no a queimar seus navios e às vezes a ir habitar mais para o interior das terras”. 

“Após destruir os exércitos de um príncipe, arruinavam-lhe as finanças com taxações excessivas ou um tributo, pretextando ressarcimento das despesas da guerra: espécie nova de tirania, que forçava a oprimir os súditos e a perder seu amor”.

“Quando concediam a paz a algum príncipe, tomavam como refém um de seus filhos ou irmãos, coisa que lhes propiciava meios de perturbar seu reino à vontade. Se deitavam a mão no herdeiro próximo, intimidavam o possuidor; se ficavam apenas com príncipe de grau afastado, valiam-se dele para criar revoltas de povos”.

“Quando um príncipe ou um povo se subtraía à obediência a seu soberano, começavam por atribuir-lhe o título de aliado do povo romano, tornado-o assim sagrado e inviolável. Com isso não havia rei maior que fosse, que pudese por um instante sentir-se seguro de seus súditos ou mesmo de sua família”.

“Embora este título de aliado fosse uma espécie de servidão, nem por isso deixava de ser muito procurado. É que se ficava seguro de receber ofensas apenas deles, e talvez menos pesadas, de modo que não havia serviços que povos e reis não estivessem prontos a prestar, nem baixezas que deixassem de perpretar para obter o título”.

“Tinham vários tipos de aliados. Uns estavam unidos a eles por privilégios e uma participação em sua grandeza, como os latinos e os hérnicos; outros, pelo próprio estabelecimento, como suas colonias; alguns, por bons serviços prestados, como Massinissa, Eumeno e Átalo; que lhes deviam o reino ou o engrandecimento do reino; outros, por trabalhos livres, e estes se tornavam súditos por um longo uso da aliança, como os reis do Egipto, da Bítinia, da Capadócia e a maior parte das cidades gregas; diversos, enfim, graças a tratados forçados e pela lei de sua sujeição, como Felipe e Antíoco. Jamais concediam a um inimigo paz que não contivesse uma aliança, ou seja, jamais submetiam um povo que não lhes servisse para subjugar outro”.

“Quando deixavam a liberdade a algumas cidades, suscitavam nelas duas facções: uma defendia as leis e a independência do país, a outra sustentava que a única lei era a vontade dos romanos. Ora como a última facção era sempre a mais poderosa, percebe-se que semelhante liberdade não passava de um nome”. 

“Às vezes, assenhoravam-se de um país a pretexto de sucessão. Penetraram na Ásia, na Bitínia e na Líbia devido aos testamentos de Átalo, Nicomedes e Apião; o Egito foi absorvido graças ao rei de Cirene”.

“Para conservar os grandes príncipes sempre fracos, não toleravam que recebessem em sua aliança aqueles a quem haviam concedido a sua, e, como não recusassem a nenhum dos vizinhos de um príncipe poderoso, essa condição, incluída num tratado de paz, não lhe deixava mais aliados”.

“Além disso, depois de vencer um príncipe de porte, incluíam no tratado uma cláusula segundo a qual ele não poderia fazer guerra contra os aliados dos romanos (ou seja, praticamente todos os seus vizinhos), mas deveria submeter as dissensões a uma arbitragem, o que lhe retirava de futuro o poder militar”.

“A fim de deter sozinhos esse poder, privavam dele até mesmo seus aliados: ao menor atrito entre estes, enviavam embaixadores que os obrigavam a assinar a paz”.

“Quando um príncipe fazia uma conquista, que não raro o esgotava, logo aparecia um embaixador romano para arrancar-lha das mãos. Entre mil exemplos, podemos evocar como, com uma simples palavra, expeliram Antíoco do Egito”.

“Sabedores que os povos da Europa eram belicosos, estabeleceram como lei que não seria jamais permitido a um rei da Ásia entrar na Europa e sujeitar qualquer povo que fosse. O motivo principal da guerra que empreenderam contra Mitrídades foi que contrariamente a essa proibição, ele havia subjugado alguns bárbaros”.

“Se viam dois povos em luta, embora não tivessem alianças nem atritos com nenhum dos dois, nunca deixavam de aparecer em cena, e,como nossos cavaleiros andantes, de tomar partido do mais fraco. Era, diz Dionísio de Halicarnasso, antigo costume dos romanos conceder sempre auxílio a quem quer que o implorasse”.

“Esses costumes dos romanos não constituíam de forma alguma fatos particulares acontecidos por acaso; eram princípios constantes, conforme se pode depreender facilmente, pois as máximas que utilizaram contra as maiores potencias foram precisamente as que haviam empregado no começo, contra as pequenas cidades à volta deles”.

“Mas sua máxima constante foi, sobretudo, dividir”. Assim dividiram as várias alianças existentes na Grécia para melhor dominar a península. 

“Nunca faziam guerras longínquas sem contar com algum aliado próximo ao inimigo que atacavam, capaz de somar tropas com as suas. Como estas jamais eram consideráveis em número, cuidavam sempre de manter outro exército na província mais avizinhada do inimigo e um terceiro em Roma, pronto para marchar. Assim, não expunham senão uma parcela ínfima de suas forças, enquanto o inimigo arriscava todas as que possuía”.

“Quando um de seus generais aceitava a paz a fim de salvar seu exército da ruína iminente, o Senado que não a ratificava, aproveitava-se dessa paz e continuava a guerra. Assim, depois que Jugurta cercou um exército romano e em seguida o deixou partir sob a fé de um tratado, foram lançadas contra ele as mesmas tropas que havia poupado; e quando os numantinos reduziram vinte mil romanos prestes a morrer de fome à contingência de pedir a paz, essa paz que salvara tantos cidadãos, foi rompida em Roma, e, para iludir a fé pública, despachou-se o cônsul que a assinara”.

“Como a glória de um general era aquilatada pela quantidade de ouro e prata exibida em seu triunfo, ele nada deixava ao inimigo vencido. Roma enriquecia-se sempre e cada guerra punha-a em condições de empreender outra”.

“Todos os povos amigos ou aliados se arruinavam oferecendo presentes riquíssimos para conservar o favor ou aumentá-lo; a metade do dinheiro por eles enviado com essa finalidade aos romanos teria bastado para vencê-los”.

“Senhores do Universo, eles se atribuíam todos os tesouros; espoliadores menos injustos como conquistadores do que legisladores. Informados de que Ptolomeu, rei de Chipre, possuía riquezas imensas, fizeram uma lei, por proposta de um tribuno, segundo a qual assumiam a herança de um homem vivo e confiscavam um príncipe aliado”.

“Enfim, como os direitos legítimos ou usurpados só se sustentavam graças ao dinheiro, os príncipes, para tê-los, despojavam os templos, confiscavam os bens dos cidadãos mais ricos. Cometiam-se mil crimes para dar aos romanos todo o dinheiro do mundo”.

“Nada, porém, serviu mais aos romanos que o respeito por eles imposto a Terra. Roma, para começar, silenciou os reis e fê-los como que estúpidos. Não se tratava do nível de seu poder, suas próprias pessoas eram atacadas: correr um risco de uma guerra era expor-se ao cativeiro, à morte, à infâmia do triunfo. Por isso os reis que viviam no fausto e nas delícias não ousavam encarar fixamente o povo romano, e, perdendo a coragem, esperavam de sua paciência e de sua baixeza um adiamento das misérias que os ameaçavam”.

"Com essas táticas se tornaram senhores da África, da Ásia e da Grécia, sem ter ali praticamente nenhuma cidade sua. Mas essa era a razão principal do seu poderio".

“Cumpria aguardar que todas as nações se acostumassem a obedecer como livres e aliadas antes de serem governadas como súditas, e que se diluíssem aos poucos na República romana”.

“Era uma maneira lenta de conquistar; vencia-se um povo e ficava-se contente em enfraquecê-lo ; impunham-se-lhe condições que o iam minando insensivelmente; caso se reergue-se era esmagado mais ainda e tornava-se súdito sem que se pudesse determinar a data de sua sujeição”.

E Montesquieu concluí: “Mas nada existe de tão contraditório neste mundo quanto o plano dos romanos e o plano dos bárbaros. Numa palavra: o primeiro era obra da força, o segundo da fraqueza; em um, era extrema a sujeição, em outro, a independência. Nos países conquistados pelas nações germânicas, o poder ficava nas mãos dos vassalos; nas do príncipe apenas o direito. Ora sucedia exatamente o contrário entre os romanos”.

Assim fazem ainda hoje as grandes potências mundiais em seus projetos de conquista, seguem a mesma cartilha dos romanos contra seus inimigos, que acusam nas assembleias mundiais antes de iniciar as conflagrações e movimentar seus exércitos. As potencias invasoras sempre com a desculpa de restabelecer e aprimorar as instituições alheias que acusam como impróprias invadem os domínios das outras nações e com seus armamentos de tecnologia superior e concentração de ataques aéreos minam a infra-estrutura das nações mais fracas, não deixando pedra sobre pedra, como os romanos faziam com suas legiões sobre os povos incultos que chamavam de bárbaros, e implantam governos títeres que por sua fragilidade sempre dependem de apoio externo. 

Instalam onde imaginam obter apoio facções ao seu favor que se infiltram nas instituições políticas das outras nações promovendo a divisão das facções que lhes são desfavoráveis. Através da mídia e da comunidade de informação que controlam divulgam sua cultura para assegurar que os valores econômicos e sociais permanecerão apropriados ao seu processo de subjugação e exploração dos recursos. Promovem uma elite dentro da nação vizinha que dá continuidade ao processo e assim não precisam movimentar suas tropas.

A história recente possui vários exemplos deste comportamento imperialista antropofágico, a guerra secundária onde em vez de vítimas humanas para o holocausto se busca o lucro sujeitando o oponente. O Império Britânico e outros países europeus em maior ou menor escala utilizaram estas estratégias de dominação que remontam à Antiguidade e que no Renascimento tiveram seu expoente nas idéias de Maquiavel.

Após a II Guerra Mundial criou-se o mito do fim do totalitarismo no mundo com a derrota do nazi-fascismo, mas o que na verdade ocorreu neste conflito foi uma disputa de dois grupos étnicos de origem indo ariana, anglo saxões e germânicos, teutões na sua origem, que buscavam definir seu poder sobre o planeta. Logo após o fim das hostilidades os antes aliados EUA e URSS iniciaram seus movimentos de dominação de suas amplas áreas de influencia do pós-guerra e mais uma vez usaram as velhas estratégias romanas para tentar assegurar sua influência geopolítica.

Segundo John Keneth Galbraith, economista americano renomado e grande analista do séc. XX autor da obra “A Era da Incerteza”, os sistemas administrativos de governo de ambas as potencias do pós guerra se tornaram semelhantes e adquiriram o mesmo perfil, com óbvias influencias da ideia imperialista romana de ocupação de grandes espaços geográficos. É na tecnocracia burocrática que o poder político se estabeleceu e a ideologia, de um lado baseada no comunismo “revolucionário” e de outro na democracia “participativa”, serviam de pano de fundo para a instauração de um poder quase absoluto dos tecnocratas que o monopolizam utilizando os velhos ideais das frátrias de senadores e dos gerúndios compostos pelas elites dominantes como nas sociedades greco-romanas. Enquanto de um lado se estabelecia o Stablishment, do outro fincava pé a Nomenklatura, ambas as formas de dominação uma repetição do ideal indo ariano baseado na liderança de reis eleitos entre seus pares. Uma elite com suas regras de sucessão ainda baseadas no antigo mito do herói, no nepotismo e na gerontocracia, como definição de poder e que tomaram de assalto as ideologias igualitárias como se fossem sua propriedade. Na verdade revivemos aqui ainda os “ideais da polis” da antiga Grécia de confronto permanente entre Atenas e Esparta revivido em várias cenas e cenários diversos, onde o poder do domínio era mitigado por alguns nobres e cidadãos e excluído da grande maioria da população de mulheres e escravos. A polis era então, como ainda o é hoje, o centro de exploração do trabalho escravo e dos pobres em ambos os regimes. Uma extensão do poder agrário, o grande curral de mão de obra cativa.

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