Sigmund Freud em sua obra “Totem e Tabú” analisa a partir do trabalho de Frazer, os costumes tabu de povos “primitivos” no que diz respeito a forma como tratam os inimigos: “Os costumes de reconciliação observados na ilha de Timor depois do retorno vitorioso de uma horda guerreira com as cabeças dos inimigos mortos, são particularmente interessantes, em função das severas restrições impostas aos chefes da expedição. ‘Ao retorno triunfante dos guerreiros se oferecem sacrifícios, para apaziguar a alma dos inimigos, que assim não mais poderiam atrair a desgraça sobre os vencedores e se executa um ritual de dança acompanhado de um cântico que nele se chora o inimigo morto e se implora o seu perdão:- Não fique com raiva de nós porque temos aqui conosco sua cabeça. Se a sorte não tivesse sido para nós favorável, seriam provavelmente as nossas cabeças que seriam expostas em sua aldeia. Te oferecemos sacrifícios para te apaziguar e agora teu espírito deve achar-se contente e nos deixará em paz. Porque foi nosso inimigo? Não teríamos feito melhor permanecendo amigos? Se assim fosse teu sangue não tinha sido vertido nem cortada a tua cabeça’”.
Outros povos têm por hábito transformar seus inimigos mortos em amigos, protetores e guardiões. Este método consiste em tratar com todo o carinho as cabeças cortadas, costume de que se vangloriavam determinadas tribos selvagens de Bornéu. Costumes parecidos existem nos países do Novo Mundo, onde ruas e distritos, acidentes topográficos e até mesmo cidades e estados mantém os nomes dos povos autóctones que foram destruídos, extintos ou assimilados no tempo da colonização como forma de lembrança apaziguadora.
Entre os tupinambás era comum guardar troféus no sentido de preservação religiosa sendo os crânios fincados em estacas à frente da choça do vencedor. Os dentes serviam para a fabricação de colares e as tíbias para a manufatura de flautins ou apitos. Consistia numa prova de valor, acarretando muita consideração trazer ao pescoço longos colares de dentes humanos e ostentar numerosas cabeças em derredor da cabana. Seu poder diziam era alertar a vinda das tropas adversárias.
O crânio, presa preciosa do vencedor, tornava-se objeto de toda a sorte de cerimônias, renovadas, aliás, cada vez que se recebem visitas. Após saudar os assistentes com manifestações bélicas, o matador, tendo o crânio suspenso pelo braço, narra a sua façanha, cantando toadas guerreiras enquanto passa pela frente dos hóspedes seguido de dois acompanhantes, que oferecem o cauim fartamente servido em cabaças. Troféu e cabaças são, depois, postos em terra e todos, aos gritos, descarregam as flechas nesses objetos. Em seguida dança-se ao redor do crânio despojado, com o qual algumas pessoas bebem, bailam e louvam as proezas.
O mais interessante na mentalidade entre os povos acostumados a caçar cabeças e ao sacrifício humano em suas formas institucionalizadas de violência é a ausência de qualquer participação profunda de tipo emocional nos atos de ferir ou matar. O caçador de cabeças que busca uma vítima para obter entre os seus a distinção de guerreiro ou então está em busca de uma cabeça para fins rituais porque sua aldeia ou a casa dos homens necessita de uma, cumprirá sua missão sem ter nenhum tipo de animosidade contra a vítima. Certamente os konyac nagas não abrigavam nenhum mal sentimento contra os escravos que compraram para obter cabeças sem correr os desnecessários riscos dos combates. Segundo o antropólogo, um ancião desse povo expressou lástima por um menino que ele e seus companheiros de clã haviam comprado com o propósito expresso de cortar-lhe a cabeça. Neste caso, o matar era uma ação que se levava a cabo para alcançar resultados específicos, e não está motivado pela fúria ou por sentimentos pessoais de ódio.
Por outro lado podemos perceber no processo civilizatório dos antigos ainda os resquícios de seus arquétipos antropofágicos, como foi a imolação de Marco Túlio Cícero, o grande orador latino, exprimiu o ato criminoso o ódio dos poderosos ao desencadear a vendeta, a vingança sectária como forma de costume ancestral. Envolvido com os problemas de sucessão em Roma após o fim do período republicano Cícero imaginava restaurar o antigo regime e por ter escolhido a facção derrotada acabou a mercê dos inimigos. Perseguido e afinal assassinado nas imediações de Fórmia, pelos sicários de Marco Antonio, assim silenciaram para sempre a sua voz defensora da democracia romana. A cabeça e as mãos do orador decepadas do tronco foram conduzidas para Roma; e sua língua transpassou-a com um grampo de seus cabelos a vingativa Fúlvia, esposa de Antonio, com requintes de maldade. Seus despojos foram vilmente deixados no fórum onde tantas vezes ele havia defendido a liberdade dos romanos para terror dos vencidos e ameaça aos recalcitrantes.
A revolução industrial na Inglaterra tinha também claras motivações de apropriação antropofágica semelhantes aos costumes destes caçadores de cabeças primordiais, civilização criada sobre as bases do crescimento econômico a qualquer custo e dominada pela aristocracia reinante e burguesia ascendente comum entre as lideranças de suas grandes corporações controladas pelas elites do império inglês. Multidões de operários tangidos dos campos para a cidade trabalhavam em condições subumanas de quase escravidão, e até mesmo crianças eram colocadas nas perigosas linhas de produção sem nenhum sentimento de aversão de uma sociedade vitoriana acostumada a impor sua vontade ao mundo dito “civilizado”. Até mesmo os estudiosos acreditavam na superioridade de sua civilização em relação às demais. O etnocentrismo de então buscava contrapor a idéia da razão a da superstição dos povos que denominavam de selvagens e primitivos. O conhecimento e sua acumulação passaram a ser distinção de superioridade. A idéia do homem-máquina adquiriu então seu apogeu, bem como o de cultura e nacionalidade. O capitalismo atingiu seu sentido mais exato que é a apropriação "per capita" de povos e gentes.
Crianças na Linha de Produção Vitoriana |
Cultura, o termo distinguindo os aspectos característicos de cada povo, será interpretado pelos nazistas e positivistas de forma objetiva, como criação, no sentido gregário, de rebanho, que se expande, se apropria, como reflexo da visão expansionista dos europeus sobre os demais povos. Essa visão agrária de cultura que será tratada de forma objetiva pelos segregacionistas no séc. XX, no limiar do séc. XXI é imposta de forma subliminar para aqueles que pretendem redimir suas culpas pela exploração do meio ambiente desconsiderando como vivem povos e gentes que consideram exóticas. O exotismo seria a desculpa pelo exorcismo cultural imposto, num multiculturalismo invertido por aqueles que consideram suas culturas como superiores por acumularem conhecimentos técnicos e inovações tecnológicas que imaginam ser um beneficio. Com essa justificativa podem apropriar-se das riquezas minerais e outros recursos naturais impondo a transformação da cultura exógena de forma a que venha assemelhar-se ao seu modelo e possa adquirir seus produtos. Assim mitigam sua consciência coletiva, vendendo quinquilharias aos vencidos.
Capitalismo adquire então seu sentido maior que é apropriação de cabeças, de gentes para fazer funcionarem as máquinas, multidões de proletários tirados da terra para alimentar as fornalhas das máquinas a vapor, cornucópia de onde tecelagens, depois as montadoras de veículos e siderúrgicas produziram e ainda produzem as riquezas para grupos econômicos cada vez mais restritos.
“Headhunter” é o termo que utilizam os experts em caçar indivíduos com qualificações de lideres Alfa para ocupar e estruturar os organogramas das corporações cada vez mais impessoais onde milhares são contratados ou demitidos conforme as bolsas de um distante país qualquer determinam. Não existem problemas de consciência nesses executivos, como não havia entre os konyac, eles cumprem suas funções em organizações com todas as características dos velhos totens tribais de tribos de caçadores, na casa dos homens, executive clubs restritos onde tomam seus drinks na happy hour tomam suas decisões sobre as multidões ignaras, e vem na mão de obra barata seu objetivo maior, seu alvo como chamam esses novos caçadores, sua presa está hoje em algum outro país exótico onde os recursos humanos ainda são abundantes e digeríveis pela máquina devoradora de homens.
Os estudiosos ao final do séc. XX tiveram que rever suas opiniões sobre quem eram os selvagens primitivos ao perceber quanto os povos civilizados puderam cometer de atrocidades em nome de sua cultura que consideravam superior.
Cidade do México |
Superpopulação -
“O freio primário ou fundamental ao contínuo aumento de homens é a dificuldade de obter-se a subsistência e de viver com comodidade... Nas nações civilizadas, este freio primário atua principalmente restringindo os matrimônios ( Agrega-se que a mortalidade infantil, guerras e emigrações também desempenham uma parte determinada nesta função)... Não obstante que os selvagens parecem ser menos prolíficos que os povos civilizados, não há dúvida de que aumentariam em número rapidamente, se não fosse por que seu número de alguma maneira é contido de maneira rígida...Os selvagens quase sempre contraem matrimonio; contudo, existe uma certa prudente restrição, determinado que comumente, não se casam na menor idade possível. Com freqüência se exige que os jovens demonstrem que podem sustentar uma esposa: geralmente, necessita primeiro atingir o dote necessário com o qual possam comprá-la de seus pais... Malthus discutiu estes vários freios, mas ele não realça suficientemente que provavelmente seja mais importante, a saber, o infanticídio, especialmente de meninas e o costume do aborto... Se não remontássemos a uma época extremamente remota, antes que o homem tenha obtido a dignidade humana, este se teria guiado mais pelo instinto e menos pela razão que como fazem atualmente os selvagens mais primitivos. Nossos antepassados semihumanos não haveriam praticado o infanticídio ou a poliandria, determinado que os instintos dos animais inferiores nunca estão tão pervertidos para levá-los com regularidade a destruir seus próprios brotos ou para estar desprovidos dos cuidados (da prole)...os antepassados do homem teriam a tendência de multiplicar-se rapidamente, mas freios de algum tipo, sejam periódicos ou constantes, deveriam mante-los em número reduzido, ainda mais severamente do que entre os selvagens atuais. A natureza precisa desses obstáculos, nós já sabemos, como ocorre com a maioria dos outros animais”. (Charles Darwin, 1871)
O ser humano, biologicamente ainda o mesmo indivíduo que viveu na pré-história, por índole amante de seu habitat natural, será cada vez mais obrigado ao convívio e confinamento com multidões nos grandes centros urbanos nos próximos anos. Ele está irremediavelmente condenado a viver em grandes estruturas com células habitacionais cada vez menores. É o que profetizou o Dr. Paul Leyhausen, do Grupo de Trabalho do Setor do Comportamento Fisiológico do Instituto Max Planck em Wuppertal na década de 60. Diferentemente de outros animais o homem nunca desenvolveu um regulador biológico eficiente para regular sua superpopulação. Na mais remota antiguidade a mortalidade de mães e crianças era elevada. O perigo de morrer em caçadas ou lutas tribais era uma ameaça diária. Não havia imunidade ou proteção contra as doenças mais simples e a média de vida era abaixo dos trinta anos. Não era portanto necessário um regulador natural de população, que então nunca se desenvolveu e até hoje praticamente inexiste. Nem os grande conflitos serviram para reduzir consideravelmente a população humana que só faz crescer.
Não podemos mais esperar um regulador biológico dizem os especialistas. Os avanços da medicina que imunizaram a humanidade contra as principais pandemias são um dos fatores para o crescimento geométrico da população humana. Do excesso de gente para o zero não é mais que um passo nos ensina a natureza. Durante cinco anos de prisão na Segunda Guerra Mundial, o Dr. Leyhausen aprendeu da pior forma possível como agrupamentos superlotados podem afetar os seres humanos como afetam outros animais. Excluídas as peculiaridades de cada espécie, as forças em movimento do efeito transformador na organização social são as mesmas.
As primeiras experiências feitas com uma massa humana comprimida, parecem comprovar essas conclusões por analogia. Na Clínica Infantil de Oxford, as Dras. Corine Hutt e Jane Vaisey dividiram as crianças em três grupos de acordo com o temperamento de cada uma. Mantendo os três grupos separados, algumas crianças eram conduzidas para quartos-de-brincar relativamente pequenos. Diariamente as três salas iam sendo preenchidas com um número crescente de crianças. Os meninos e meninas eram supervisionados sem saber através de dispositivos instalados na parede.
As crianças de temperamento acomodável, à proporção que se enchia a sala, foram ficando mais retraídas, evitando sempre mais os contatos anteriores em suas brincadeiras com o grupo. Quanto mais a sala se enchia tanto mais elas se isolavam. Quando o aperto foi tal que as crianças já não conseguiam evitar o contato de outros corpos, explodiram por toda a parte ondas de agressão e a experiência teve que ser interrompida. Esta maneira de reagir contra a massa se assemelha com a de outros animais sociais. No grupo das crianças de temperamento irascível, os atritos foram constantes desde que a sala ficou meio lotada. O grupo das crianças passivas mostrou agrado até a sala ser completamente lotada. Entre os humanos constatou-se mais diversidade de comportamentos do que entre espécies de animais diferentes.
O ser humano, biologicamente ainda o mesmo indivíduo que viveu na pré-história, por índole amante de seu habitat natural, será cada vez mais obrigado ao convívio e confinamento com multidões nos grandes centros urbanos nos próximos anos. Ele está irremediavelmente condenado a viver em grandes estruturas com células habitacionais cada vez menores. É o que profetizou o Dr. Paul Leyhausen, do Grupo de Trabalho do Setor do Comportamento Fisiológico do Instituto Max Planck em Wuppertal na década de 60. Diferentemente de outros animais o homem nunca desenvolveu um regulador biológico eficiente para regular sua superpopulação. Na mais remota antiguidade a mortalidade de mães e crianças era elevada. O perigo de morrer em caçadas ou lutas tribais era uma ameaça diária. Não havia imunidade ou proteção contra as doenças mais simples e a média de vida era abaixo dos trinta anos. Não era portanto necessário um regulador natural de população, que então nunca se desenvolveu e até hoje praticamente inexiste. Nem os grande conflitos serviram para reduzir consideravelmente a população humana que só faz crescer.
Não podemos mais esperar um regulador biológico dizem os especialistas. Os avanços da medicina que imunizaram a humanidade contra as principais pandemias são um dos fatores para o crescimento geométrico da população humana. Do excesso de gente para o zero não é mais que um passo nos ensina a natureza. Durante cinco anos de prisão na Segunda Guerra Mundial, o Dr. Leyhausen aprendeu da pior forma possível como agrupamentos superlotados podem afetar os seres humanos como afetam outros animais. Excluídas as peculiaridades de cada espécie, as forças em movimento do efeito transformador na organização social são as mesmas.
As primeiras experiências feitas com uma massa humana comprimida, parecem comprovar essas conclusões por analogia. Na Clínica Infantil de Oxford, as Dras. Corine Hutt e Jane Vaisey dividiram as crianças em três grupos de acordo com o temperamento de cada uma. Mantendo os três grupos separados, algumas crianças eram conduzidas para quartos-de-brincar relativamente pequenos. Diariamente as três salas iam sendo preenchidas com um número crescente de crianças. Os meninos e meninas eram supervisionados sem saber através de dispositivos instalados na parede.
As crianças de temperamento acomodável, à proporção que se enchia a sala, foram ficando mais retraídas, evitando sempre mais os contatos anteriores em suas brincadeiras com o grupo. Quanto mais a sala se enchia tanto mais elas se isolavam. Quando o aperto foi tal que as crianças já não conseguiam evitar o contato de outros corpos, explodiram por toda a parte ondas de agressão e a experiência teve que ser interrompida. Esta maneira de reagir contra a massa se assemelha com a de outros animais sociais. No grupo das crianças de temperamento irascível, os atritos foram constantes desde que a sala ficou meio lotada. O grupo das crianças passivas mostrou agrado até a sala ser completamente lotada. Entre os humanos constatou-se mais diversidade de comportamentos do que entre espécies de animais diferentes.
Isto dificulta ainda mais o problema entre os homens. A alma humana do ponto de vista coletivo, fenômeno totalmente contrário à razão, não constituí uma unidade frente aos mesmos estímulos. Cada indivíduo reage de modo diverso, de acordo com sua própria personalidade. Como constataram as pesquisadoras inglesas: "Vista psicologicamente, a massa humana parece uma combinação de diversas espécies animais".
Animais confinados em zoológicos que são normalmente sociáveis e que respeitam naturalmente uma hierarquia em seu ambiente natural, como os babuínos por exemplo, o chefe do bando, normalmente tolerante, se torna um déspota insuportável, conta Paul Leyhausen, e o grupo se torna uma massa amorfa, fragmentária, sem estrutura comunitária. O pesquisador alerta: "Entre os homens a superpopulação também representa um perigo em relação à verdadeira democracia. O resultado quase inevitável é o advento da tirania, seja ela exercida por um tirano ou através de uma ideia abstrata, como o bem estar geral, que traz, para a maior parte dos cidadãos comuns, maiores cargas do que proveitos".
Uma das características básicas do ser humano é viver em pequenos grupos sociais onde pode afirmar sua posição social. Para vencer o medo necessita viver em uma coletividade limitada. A grande massa anonima tira-lhe a segurança e fobias inexplicáveis são estimuladas. Sua solidão é a mais completa em meio a multidão. A violência interpessoal explode pelos motivos mais fúteis e de forma mortal.
A perda de liberdade das massas é irreversível, o sacrifício pela causa comum esconde a necessidade cada vez maior dos poderosos de diminuir por pressão a densidade populacional, confinar o indivíduo comum em espaços cada vez mais restritos ou povoar novos assentamentos onde seus moradores originais com certeza serão expulsos e marginalizados. Aliás esse é o sentido da palavra marginal, aquele que foi expulso e confinado na periferia de algum espaço, fora do território do grupo dominante.
A crise global que hoje atinge os países do hemisfério norte antes conhecidos pelo alto nível de vida possuí já como principal causa o excesso populacional e as consequências desse desastre humano já são sentidos nas periferias marginalizadas do mundo, com grandes movimentos populacionais e conflitos de baixa intensidade cada vez mais graves. Tambores de guerra ressoam para encher de entusiasmo os jovens nas metrópoles e enviá-los aos milhares para outro país distante onde possam transgredir as normas sem afetar suas sociedades de origem.
Animais confinados em zoológicos que são normalmente sociáveis e que respeitam naturalmente uma hierarquia em seu ambiente natural, como os babuínos por exemplo, o chefe do bando, normalmente tolerante, se torna um déspota insuportável, conta Paul Leyhausen, e o grupo se torna uma massa amorfa, fragmentária, sem estrutura comunitária. O pesquisador alerta: "Entre os homens a superpopulação também representa um perigo em relação à verdadeira democracia. O resultado quase inevitável é o advento da tirania, seja ela exercida por um tirano ou através de uma ideia abstrata, como o bem estar geral, que traz, para a maior parte dos cidadãos comuns, maiores cargas do que proveitos".
Uma das características básicas do ser humano é viver em pequenos grupos sociais onde pode afirmar sua posição social. Para vencer o medo necessita viver em uma coletividade limitada. A grande massa anonima tira-lhe a segurança e fobias inexplicáveis são estimuladas. Sua solidão é a mais completa em meio a multidão. A violência interpessoal explode pelos motivos mais fúteis e de forma mortal.
A perda de liberdade das massas é irreversível, o sacrifício pela causa comum esconde a necessidade cada vez maior dos poderosos de diminuir por pressão a densidade populacional, confinar o indivíduo comum em espaços cada vez mais restritos ou povoar novos assentamentos onde seus moradores originais com certeza serão expulsos e marginalizados. Aliás esse é o sentido da palavra marginal, aquele que foi expulso e confinado na periferia de algum espaço, fora do território do grupo dominante.
A crise global que hoje atinge os países do hemisfério norte antes conhecidos pelo alto nível de vida possuí já como principal causa o excesso populacional e as consequências desse desastre humano já são sentidos nas periferias marginalizadas do mundo, com grandes movimentos populacionais e conflitos de baixa intensidade cada vez mais graves. Tambores de guerra ressoam para encher de entusiasmo os jovens nas metrópoles e enviá-los aos milhares para outro país distante onde possam transgredir as normas sem afetar suas sociedades de origem.
Em 1931 quando Admirável Mundo Novo foi escrito, Aldous Huxley estava convencido que ainda restava muito tempo. Conforme suas próprias palavras - “a sociedade completamente organizada, o sistema cientifico de castas, a abolição da vontade livre por meio de um condicionamento metódico, a servidão tornada aceitável mediante doses regulares de felicidade quimicamente transmitidas, as ortodoxias propagandeadas em cursos noturnos ministrados enquanto se está adormecido - estas coisas aproximavam-se tais eu as dizia, mas não chegariam no meu tempo, nem mesmo no tempo dos meus netos. Nós que vivíamos no segundo quartel do século XX d.C., éramos os habitantes de um universo realmente horrível; mas o pesadelo daqueles anos de depressão era radicalmente diferente do pesadelo do futuro, descrito no Admirável Mundo Novo. O nosso era um pesadelo de excessiva falta de ordem; o deles, no século VII d.F., de ordem em demasia. Vinte e sete anos depois (1958), dizia sinto-me muito menos otimista do que me sentia quando estava a escrever o Admirável Mundo Novo. As profecias feitas em 1931 estão a realizar-se muito mais depressa do que eu pensava”.
Caso Huxley ainda vivesse com certeza sua surpresa ainda seria maior com a evolução tecnológica ocorrida nos últimos 60 anos, em relação as inovações abordadas em seu livro. Sua visão histórica, bastante lúcida sobre a condição humana, fruto de sua formação humanista no período conflituoso anterior à Segunda Guerra Mundial, quando ocorreram profundas mudanças, e estava distante ainda dos acontecimentos da metade do século XX, auge da guerra fria, o terror nuclear e a difusão do capitalismo norte americano pelo mundo Ocidental.
Como época de grandes transições sociais, políticas, e econômicas, o final do século XX e inicio do séc. XXI possuem grandes semelhanças históricas com os anos trinta. O período entre guerras marcava o crepúsculo da influência militar colonialista européia. Desemprego, fome e miséria assolavam o mundo em suas crises cíclicas e serviam de incubadora perfeita para fomentar ideais nacionalistas e fascistas. O mundo estava na época à beira do caos social e econômico, que iria materializar-se anos depois na Grande Guerra Mundial, responsável pela destruição das estruturas européias conhecidas.
Neste inicio do séc. XXI, apesar dos grandes esforços no sentido de exorcizar-se a xenofobia e o etnocentrismo da humanidade, eis que surgem os mesmos valores novamente travestidos em intolerância racial e econômica, germinando lentamente nos países mais desenvolvidos do planeta. Com multidões de imigrantes provenientes de suas ex-colônias e zonas de influência, já não conseguem garantir os avanços sociais atingidos no pós II Guerra, de bem estar social e elevada qualidade de vida. Por outro lado, a crescente necessidade de mão de obra mais barata e disposta a cumprir árduas tarefas, obriga estes povos privilegiados das nações desenvolvidas a conviver e coabitar com estes contingentes “bárbaros” em seus países, mesmo que muitas vezes sujeitem os grupos sociais alienígenas, diferentes de seus padrões de cultura a viverem em superpovoados guetos sem mínimas condições de higiene, as senzalas modernas. A hipocrisia das políticas oficiais sobre imigração nos países desenvolvidos condenam o imigrante estrangeiro ao trabalho “ilegal”, termo que poderia ter sido criado na mais perfeita novilíngua de Orwell, em seu “1984”, inspiração maior do grande irmão, neologismo que pode ser definido; em trabalho sem nenhum direito de cidadania ou mínimas condições de respeito aos direitos humanos do indivíduo, forçando o termo a ilegalidade do ato e negando-lhe um direito natural numa sociedade pretensamente livre e desenvolvida. O capital beneficia-se diretamente de marginalizar o trabalho do imigrante, reduzindo seus ganhos e conseqüentemente custos sobre serviços e produtos. Porém a longo prazo, o verdadeiro impacto deste deslocamento populacional já está sendo percebido no século XXI, com a discutida falência das estruturas previdenciárias, ou seu abandono pelas políticas econômicas racionalistas e neoliberais dos governos nos países desenvolvidos em crises financeiras cíclicas, resultanto na favelação dos guetos das populações estrangeiras carentes, mudanças de hábitos e costumes, aproximando cada vez mais o primeiro mundo das realidades sociais e culturais do terceiro mundo.
Em contrapartida, o crescimento populacional descontrolado, principalmente no terceiro mundo, com sua concentração nas grandes cidades do hemisfério sul terá igual impacto negativo sobre a qualidade de vida destas populações. Segundo os levantamentos realizados pela ONU, de 1990 até o ano 2000 dobrou de um para dois bilhões de habitantes a população do planeta, com a projeção de mais uma provável duplicação da população urbana nos 25 anos subseqüentes de acordo com as taxas de crescimento históricas. Um verdadeiro beco sem saída populacional.
A população mundial chegará aos sete bilhões em 2012, segundo a última projeção do Escritório do Censo americano, na qual analisa diferentes fatores que afetam o crescimento demográfico em 226 países. Sendo assim, em apenas 13 anos a população mundial passará a ter um bilhão de habitantes adicionais.
Mais da metade dos 6,8 bilhões de pessoas que formam a população mundial hoje vivem já nas cidades, segundo a Federação Internacional da Cruz Vermelha (FICV), que alertou sobre os riscos de uma urbanização rápida e sem planejamento do planeta. O Relatório Mundial de Desastres 2010, apresentado em Nairóbi por Matthias Schmale, vice-secretário-geral da FICV, adverte que "2,57 bilhões de habitantes urbanos nos países de receitas baixas e médias estão expostas a níveis inaceitáveis de risco". Entre esses riscos destaca-se o consumo de fast-food, a urbanização acelerada, más administrações de Governos locais, crescimento demográfico das cidades, assistência sanitária deficiente e violência urbana crescente. Os países mais povoados são China, Índia e Estados Unidos, nesta ordem.
Essa população já responde pelo consumo de 70% dos recursos disponíveis na natureza. segundo o relatório intitulado "A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade para Políticas Locais e Regionais" Segundo o documento, com a estimativa de que a população do planeta supere 9,2 bilhões até 2050, a Terra terá 6 bilhões de habitantes, quase 90% da população atual, vivendo no espaço urbano. Diante desses dados, governos e comunidades precisam reconhecer o valor do capital natural (água, solo, biodiversidade). Os formuladores de políticas públicas têm razões de sobra para tentar encontrar, o mais rápido possível, soluções de combate à degradação dos ecossistemas e minimização da perda da biodiversidade, dizem os analistas.
Assim sendo essas populações serão amontoadas nas megacidades, onde a miséria e seus ramos perniciosos já lançaram suas raízes de maneira irreversível no século passado. Já em 1958 Huxley declarava - “É verdade que no Ocidente, homens e mulheres gozam ainda de uma larga medida de liberdade individual. Mas, até naqueles países que tem uma tradição de governo democrático, esta liberdade, e o desejo desta liberdade, parece encontrar-se em declínio. No resto do mundo a liberdade para os indivíduos já desapareceu, ou está manifestamente em vias de desaparecer. O pesadelo da organização total, que eu situara no século VII d.F., emergiu do futuro remoto e por isto tranqüilizante, e encontra-se agora esperando por nós no primeiro ângulo do caminho”.
A escalada da explosão urbana sobre áreas antes livres, o crescimento populacional e sua má distribuição no terceiro mundo, com cidades superpovoadas, acrescida do grande déficit social, condenam o próximo século a uma crise sem precedentes. Nestes países onde confundem-se ainda o colonialismo com os ideais neoliberais e racionalistas provocados pela revolução tecnológica, patrocinada e difundida pela elite dominante, as soluções de mercado adotadas pelos países do hemisfério norte não servem de exemplo, pois no hemisfério sul aumentará o abismo ainda mais na desigualdade predominante, beneficiando uma minoria e marginalizando a maioria da população.
Além disso, o modelo do hemisfério norte não pode ser considerado um sucesso. O agravamento do processo de segregação étnica, a desagregação da família, as tensões sociais, o aumento do consumo de drogas, a violência urbana, e a falência ou abandono dos serviços sociais em algumas das cidades mais ricas, não recomendam as experiências destes países em gerir e resolver seus problemas. Os países do terceiro mundo, a maioria localizados no hemisfério sul, estão condenados pelo imobilismo e incompetência de suas elites em resolver tais problemas, profundamente envolvidos em adquirir novas tecnologias de expansão de mercado a qualquer preço, e certamente a cada geração cada vez mais decadentes na manutenção dos verdadeiros valores sociais e morais de liderança. Como sultões irresponsáveis vivem a irrealidade da vida no harém, cercados em condomínios guarnecidos por seus seguranças e milícias particulares.
Já em 1958 com seu “Regresso ao Admiravel Mundo Novo”, Aldous Huxley profetizava: “E esta duplicação fantasticamente rápida do número de seres humanos ocorrerá num planeta cujas áreas mais procuradas e produtivas já estarão densamente povoadas, cujos solos estão a ser desgastados por esforços frenéticos de maus agricultores, com a finalidade de obterem mais alimento, e cujo capital de minerais facilmente utilizáveis está a ser dissipado com a extravagância estouvada de um marinheiro embriagado que se despoja rapidamente dos salários que acumulou. No mundo real contemporâneo, o problema da população não foi resolvido. Pelo contrário, o problema está a tornar-se mais grave e mais pavoroso a cada ano que passa. E’ contra este sinistro pano de fundo biológico que todos os dramas políticos, econômicos, culturais e psicológicos do nosso tempo se desenrolam profetizando o futuro próximo”...
Os seres humanos evoluíram com sua aptidão de primatas para a organização social. Entretanto dentro desta atual e complexa sociedade, o crescimento populacional excessivo produz entre os homens das megacidades o retorno às suas raízes, a volta aos seus valores tribais mais primitivos. Nas megacidades milhares de tribos entrecruzam-se, cada uma tentando afirmar sua própria identidade em conflito direto, contraposição natural à tentativa de massificação cultural imposta pelos detentores do poder da informação de massa. Esta situação geradora de tensões sociais crescentes, reflete-se de diferentes formas dependendo do nível de desenvolvimento da região do mundo evocada. Nos países desenvolvidos do hemisfério norte, Europa e EUA, com o crescimento dos guetos étnicos onde são alojadas as minorias estrangeiras em condições subumanas, e nas regiões subdesenvolvidas do hemisfério sul, com o aumento da marginalidade e pobreza destes povos de origem nativa ou descendente de imigrados pela força no século XIX, que vivem nos arrabaldes do desenvolvimento das elites. São a pobreza máxima e a riqueza mínima uma ameaça latente e constante às instituições democráticas, quase sempre tomadas de assalto pelas elites e suas seitas oportunistas sob a justificativa da manutenção da paz e da ordem interna.
Um exemplo que salta aos olhos é a forma descontrolada como as grandes corporações induzem o comportamento das massas. Enquanto os recursos do planeta são explorados com sofreguidão visando manter grandes plantas industriais em funcionamento, toda uma estrutura de comunicação é montada para garantir e justificar que esses bens sejam consumidos. Agem no sentido de evitar o questionamento por parte dos consumidores em relação aos meios utilizados para sua obtenção. São um público de milhões de pessoas que imaginam assim garantir o seu conforto imediato, como os lemingues, que quando reproduzem em demasia seguem marchando em direção ao penhasco sem perceber que a morte certa lhes espera no fim da jornada. Ou como uma manada de búfalos que em disparada insana não levanta a cabeça por sobre o rebanho para observar o despenhadeiro que se aproxima e acabam os de trás empurrando para a fatalidade os que seguem a frente para regozijo do esperto predador que se avizinha.
O Massacre de Jonestown -
O Massacre de Jonestown -
Em 1977, o Templo do Povo era uma organização semelhante a um culto de renovação cristã que começou suas atividades em São Francisco, na Califórnia e atraiu seus fiéis entre os habitantes dos bairros mais pobres daquela cidade. O Rev. Jim Jones era seu inconteste líder político, social e espiritual e conseguiu influenciar seus adeptos para criarem um assentamento na selva da Guiana, na América do Sul onde criariam sua Nova Jerusalém, eram uma comunidade religiosa em busca da sua “terra da promissão”, sugestivamente denominada pelo seu fundador de Jonestown. Lá viveram em relativa obscuridade tentando tirar da terra selvagem seu sustento capitaneados pelo seu messias. Em 18 de novembro de 1978, quando quatro homens que pertenciam a uma comissão de investigação do governo americano liderados pelo deputado Leo J. Ryan tentaram partir de avião foram executados por adeptos do culto a mando de seu pastor. Ciente de que seria envolvido em acusações criminais sérias e que isso acarretaria o final de seu projeto divino na terra, Jones resolveu a seu modo perpetuar de maneira definitiva sua missão no planeta. Ele reuniu toda a sua comunidade e emitiu um sermão sobre as benesses do sacrifício grupal perante os olhos de Deus e como agindo assim alcançariam o verdadeiro paraíso.
A primeira a beber o veneno do barril aromatizado com morango foi uma jovem que calmamente sorveu o liquido e deu uma dose ao seu bebe, e depois sentou-se em um campo no qual ela e seu filho morreram em quatro minutos em meio a violentas convulsões. Outros a seguiram sem questionar. Apesar de um punhado de habitantes ter fugido dali e alguns outros resistirem ao suplício, os sobreviventes afirmaram que a maioria das 910 vítimas sorveu o veneno com sabor de morango de forma ordenada e voluntária, sem nenhum queixume.
Os mortos de Jonestown |
Na época a mídia tratou o assunto com estardalhaço. Várias análises foram apresentadas por peritos que buscavam explicar esta psicose coletiva que permitiu ceifar muitas vidas. Muitas foram as explicações. Algumas se concentraram na personalidade carismática de Jim Jones como a causa da tragédia. Ele fazia com que as pessoas o amassem como a um messias. Confiassem em seus conselhos como a um pai. E o tratassem como a um soberano. O reverendo acumulava todas as qualidades de um macho Alfa e desta forma mantinha controle absoluto sobre seu rebanho. Outras explicações dos analistas foram em relação ao público de seguidores, pessoas pobres e sem instrução, ex-drogados e marginalizados da sociedade capitalista americana, dispostas a abrir mão da própria liberdade de pensamento e ação em troca da segurança de alguém decidir seus próprios destinos. Outras ainda afirmavam a natureza religiosa do Templo do Povo, onde seus crentes sofriam diariamente uma doutrinação no qual a fé em seu líder era prioridade.
Os sobreviventes afirmaram que eles estavam bebendo o veneno como se estivessem hipnotizados ou algo parecido. O poder de persuasão associado a um ambiente hostil e desconhecido pode ter auxiliado na decisão da comunidade que individualmente buscava a semelhança entre seus iguais. Se estivessem em São Francisco talvez questionassem a decisão de seu líder disseram os especialistas. Sua alienação do resto do mundo foi um fator determinante para seguirem o pensamento gregário em oposição ao instinto natural de sobrevivência. Quando as pessoas ficam inseguras buscam orientação nas decisões da comunidade. Ao estarmos imersos na cultura particular nosso senso crítico fica embotado. Elas não foram hipnotizadas por Jones num sentido mais particular, foram convencidas em massa de que aquele seria o melhor caminho a ser seguido. As incertezas porventura surgidas foram minimizadas pela atitude grupal de aceitação da comunidade que não quiseram transparecer hesitação perante aos demais pertencentes do culto.
Os compatriotas viram no exemplo dos seus a razão para seguir o ritual de autodestruição. Em grupos sociais sempre existem indivíduos que fanaticamente obedecem a um macho alfa determinado. Basta saber se os formadores de opinião foram previamente instruídos para manterem um comportamento resignado ou se eram mais suscetíveis ao domínio do seu líder carismático. Na sociedade humana tais comportamentos patológicos já foram observados entre suicidas e serial killers que copiam outros seus semelhantes na condição primata de imitadores simiescos. Existe um comprovado aumento do número de eventos nas estatísticas de mortes similares após um determinado acontecimento mórbido. O mesmo sucedeu em Jonestown e com mais força levando em conta a proximidade entre as pessoas vivendo em uma comunidade fechada com uma origem nacional comum.
Foi com certeza o poder de manipulação consciente deste líder que permitiu iludir a tantos e influenciar seus comportamentos. Através de seus aliados, outros formadores de opinião foi que ele estabeleceu redes de aceitação do grupo no assentamento criando as condições ideais de convencimento dos indivíduos que estão quase sempre em busca de fazerem parte do rebanho e temem a própria rejeição perante o grupo. Assim o principio da aprovação social funcionou ao máximo ao seu favor.
Segundo os especialistas, seu toque de mestre foi o deslocamento da comunidade do Templo do Povo para longe de suas raízes. Teria sido só isso? Seu assentamento como qualquer comunidade com mais de mil seres foi manipulado como fazem os grandes criadores com seus rebanhos. O rebanho sempre pode ser tangido para determinado lugar ou até mesmo para o matadouro desde que o primeiro do bando siga na mesma direção, independente inclusive da reação do animal líder.
Vista Aérea dos Corpos |
Diane Louie era residente em Jonestown, em novembro de 1978, quando Jim Jones exortou sua comunidade religiosa ao suicídio. Ela foi uma das poucas que rejeitaram o comando de Jones. Fugiu da comunidade e buscou refúgio na floresta. Ela atribuiu sua decisão ao fato de ter rejeitado favores especiais do pastor antes dos eventos mortais. Recusou sua oferta de comida especial quando estava adoentada. “Eu sabia, disse, que depois de me conceder aqueles privilégios, ele me teria em suas mãos. Eu não queria ficar devendo nada a ele”.
Não existem hoje muitas pessoas como ela, pois são quase sempre mal vistas e suas motivações são tratadas com temor pelo inconsciente coletivo do rebanho que rejeita qualquer idéia que abale sua segurança imediata. Suas não conformidades individuais confundem o relacionamento social gregário que busca a certeza do suicídio grupal e a sua vez na fila ordenada para beber do barril de veneno em prol de um mundo cada vez mais poluído, superlotado e explorado que já cobra do fundo de suas entranhas uma mudança de comportamento ambiental em âmbito global
O astrofísico Stephen Hawking tem alertado que, ao menos que a raça humana colonize o espaço nos próximos dois séculos, vai desaparecer para sempre. "Eu vejo um grande perigo para a raça humana. Houve vezes no passado em que a sobrevivência (do ser humano) foi incerta. A crise dos mísseis de Cuba em 1963 foi uma delas", disse Hawking. "É provável que a frequência dessas ocasiões aumente no futuro. Precisamos de muito cuidado e discernimento para negociar tudo isso com sucesso".
Neste rastro de informações privilegiadas, mais uma vez a alcateia de machos alfa avança. Suas novas roupagens e neologismos vão sofrendo transformações constantes, mimetismos, pois sentem próximo o aroma do sangue de suas presas que devem ser mantidas domesticadas. A multidão indefesa, sob controle, corre célere para o precipício da conformidade, pois os predadores sabem e só almejam os altos lucros e os resultados crescentes de vendas das suas corporações e não pretendem dividir seus espaços de recreio e santuários no futuro próximo com o rebanho confinado, que se acotovela no curral de concreto armado em direção ao abismo da extinção iminente.