domingo, 22 de agosto de 2010

Oriente Médio


Portão de Ishtar

Suméria -

Um macho alfa de babuínos e suas fêmeas sempre seguem próximos ao centro do bando quando vagam na vasta planície africana. Ao redor os jovens machos reprodutores seguem acompanhando o bando e prontos a dar  sinal  em caso de problemas com predadores. Um aviso dos batedores colocará o bando em alerta e auxiliará a retirada estratégica do macho alfa com suas fêmeas e filhotes enquanto os predadores atacam a periferia do bando e um ou dois machos jovens são mortos no ataque enquanto as fêmeas e o macho alfa fogem para a segurança da floresta.


Esta é uma reação primordial instintiva que demonstra como o conceito de nação imergiu na consciência do homem primitivo que concorria com seus pares outros seres humanos e contra pressões externas de competidores e predadores. O sacrifício dos jovens reprodutores, l’enfants como são chamados os infantes em todo o mundo é algo que foi levado na Europa ao seu auge nas batalhas do séc. XVIII até Verdun onde jovens abrigados em trincheiras se jogavam contra a artilharia pesada dos inimigos gerando uma carnificina cruel e sem sentido estratégico, uma batalha floreada como a dos astecas, convencionada, mas mais mortífera e tão ao gosto dos generais do velho mundo.


Em caso de conflito, milícias camponesas reforçavam o exército permanente, composto por servidores do monarca. Assim faziam os antigos senhores tribais, arquétipos dos antigos reis, quando da adoção da agricultura e do sedentarismo Controlavam suas propriedades e seus servos recrutados entre os povos vencidos; deviam manter sua população limitada e constante e a produção da terra lucrativa com excedentes de produtos para troca por mercadorias tão necessárias provindas das cidades estado emergentes. Disputas com os vizinhos podem ser um ótimo redutor de população excedente; em caso de vitória militar adquirir novos espaços para colonizar e aumentar o plantio da terra ou na derrota menos pessoas para dar sustento. Melhor usar no combate aos seus vizinhos, outros senhores de igual poder, os jovens infantes camponeses como tropas auxiliares, munidos de fundas e bastões que são armas camponesas de precisão relativa para fazer frente ao inimigo e caso a deusa da fortuna não esteja sorrindo aquele dia pode o senhor deixá-los a própria sorte no campo estrangeiro enquanto foge com  seu carro de guerra  junto com seus pares.


O que observamos dessa época são as classes dirigentes e o modelo que os soberanos pretenderam encarnar: o pastor de homens, que testemunhava sua piedade para com os deuses mediante a ereção de imponentes santuários, e sua solicitude para com o povo por meio do desenvolvimento de uma agricultura florescente, do poderio do exército e da eficácia da justiça. Não é preciso lembrar que esse ideal raramente foi alcançado, mesmo assim, serviu para forjar um certo tipo de homem que sobreviveu com as instituições sociais dessa época e chegou a influenciar os modelos de eras posteriores.  


O Crescente Fértil, região onde está localizado o atual Iraque foi um dos centros de difusão da cultura humana, a palavra escrita, os códigos de leis, a cunhagem de moedas foram idéias desenvolvidas por estes povos que marcaram a humanidade de maneira definitiva. Por muitos anos desenvolveram suas cidades estados, resultado da prosperidade criada pela agricultura de irrigação favorecida pela proximidade de rios e  sistema de canais que tornavam agricultável as regiões desérticas e drenavam os pântanos. Garantiram assim a fartura necessária para criarem uma nova forma de conflito, a guerra secundária, onde o objetivo é o expansionismo territorial e a assimilação de cativos para substituição de mão de obra nos campos e na construção de muralhas e templos. Assim lutando pela sobrevivência de suas cidades estados e a topografia desfavorável, um vasto planalto cercado por montanhas logo chamou a atenção dos povos que desciam do norte, das regiões montanhosas, em busca da fertilidade das terras, pressionados pelo aumento populacional. Os invasores, de forma pacifica ou não, vinham firmar assentamentos no vale entre o Eufrates e Tigre.


Era no templo onde se realizavam a divisão de tarefas da sociedade a luz da hierarquia de seus deuses, a sociedade era hierarquizada conforme suas atribuições e funções. Ele servia como um centro financeiro onde as riquezas produzidas eram acumuladas, sendo o local de devoção e ao mesmo tempo e banco onde se guardava o tesouro do reino. O rei acumulava a função de sumo sacerdote e guerreiro supremo, ficando ao seu cargo a guarda e manutenção dos templos e muralhas da cidade estado. Constituíam, de fato, unidades econômicas completas, que possuíam, estábulos, armazéns, e manufaturas compostas de oficinas de transformação e centros de distribuição. Além do mais serviam como centros de comércio ativo com outras nações próximas e distantes. A base da riqueza era a agricultura, mas ouro e pedras preciosas eram negociadas junto com os produtos da terra, como a cevada, várias variedades de trigo, que serviam para a fabricação do pão e da cerveja. A criação de animais e a pesca completavam as atividades ligadas ao templo que dispunha de uma abundante mão de obra, lavradores, pastores, hortelões, padeiros, magarefes, curtidores, carpinteiros, ferreiros e tecelões, em suma compunham uma atividade similar a de uma empresa autonoma. Assim sagrado e profano se misturavam e as riquezas eram diligentemente anotadas pelos escribas, chefiados pelos sacerdotes que obedeciam ao Ensi, o chefe da cidade que possuía prerrogativa sacerdotal.


Deuses Semitas


Os sacrifícios ocorriam para propiciar boas colheitas e conseguir favores dos deuses. Encontramos nos relatos do Ghâya al-hakim referencias sobre rituais de sacrifícios que ainda ocorriam já no período islâmico. O patriarca jacobita Dionisio I nos conta que  em 765 d.C. , portanto numa época tardia, ainda ocorriam alguns desses rituais. Um homem que iria ser sacrificado assustou-se ao ver a cabeça ensangüentada de seu predecessor. Fugiu então e foi acusar os sacrificadores de Harran junto a Abbâs, prefeito da Mesopotamia. Os sacrificadores foram duramente castigados. O califa Mamûm teria dito para os enviados Harrânicos em 830: "Sois sem dúvida daquela gente da cabeça que meu pai teve de se haver". Através da Ghâya conhecemos a seguinte prática: um homem de cabelos louros e olhos azul-escuros é atraído para a dependência do templo e ali mergulhado num recipiente de óleo de sésamo (Gergelim) . Fica encerrado de tal modo que só a cabeça permanecia de fora. É mantido assim durante 40 dias, só se alimentando de figos amolecidos no óleo de sésamo. Não lhe dão água para beber. Isto lhe macera o corpo a ponto de torná-lo mole como cera. O prisioneiro é incensado diversas e repetidas vezes, enquanto se pronuncia sobre ele fórmulas mágicas. Por fim decepam-lhe a cabeça, na altura da primeira vértebra cervical, ficando o resto do corpo mergulhado no óleo. A cabeça é, então, depositada num nicho, sobre um monte de cinzas de oliveiras, e é envolvida com algodão. Novamente incensado profere a seguir seus "oráculos", revelações a respeito da carestia, ou da boa colheita, assim como a respeito da mudança das dinastias e outros acontecimentos futuros. Seus olhos podem enxergar, mas as pestanas não se moviam mais. A cabeça "revelava" aos homens seus segredos mais íntimos. Também lhe faziam perguntas científicas ou relacionadas com o trabalho artesanal. Embora seja possível que a cabeça tenha sido substituída em época posterior, por um simulacro correspondente, a idéia original dessa cerimonia é de uma cabeça humana verdadeira.


O costume das hecatombes funerárias aconteceu nos primórdios dessa civilização e pode ser verificado em vários pontos do território mesopotamico. Tais práticas foram atestadas em Kish, em   Mari, mas o exemplo mais significativo é o de Ur. As tumbas reais recuperadas eram verdadeiras casas subterraneas abobadadas, às quais se tinha acesso através de rampa em suave declive. Nas proximidades de uma delas jaziam os corpos de umas  pessoas que teriam sido sacrificadas para acompanhar o morto ilustre ao além. O endocanibalismo assumia uma característica própria que seria repetida em muitas outras civilizações onde o poder sacerdotal e o militar se fundiam em uma só personalidade e autoridade.

A escravidão era alimentada por diversas fontes: condenações dos tribunais, dificuldades financeiras que levavam o homem abrir mão de sua liberdade e dos seus a ponto da venda de crianças ser freqüente criando a idéia de que o servilismo era comum entre esses povos, sendo o escravo dotado de alguma autonomia para contrair casamento, possuir personalidade jurídica própria podendo até mesmo intentar ações em juízo e possuir bens. Sua sorte dependia é claro da fortuna e do caráter de seu senhor. Para muitos desfavorecidos, como costume estabelecido pela sociedade de então era a garantia de uma melhor situação para os descendentes em termos de sobrevivência.


Os verdadeiros escravos párias eram os prisioneiros de guerra; os individuos capturados no curso das expedições militares, não tinham estatuto jurídico próprio. Distribuídos em grupos eram eles que efetuavam os trabalhos pesados. As longas guerras faziam multidões de cativos afluir para atender a demanda de trabalho na construção de cidades e foram utilizados até mesmo como tropas em guarnições acantonadas em diversos pontos do território pelos reis de Ur. Em vez do devoramento, as massas de prisioneiros serviam com sua força de trabalho para a criação de riquezas inaugurando o sentido da guerra secundária que iria marcar o comportamento dos impérios vindouros.        


Povos nômades viviam e transitavam pela Mesopotamia seduzidos pela sua fartura ali existente e as mais célebres são as tribos chefiadas pelo patriarca Abraão. Com as novas descobertas arqueológicas sobre suas andanças, os estudiosos situam esses povos semíticos como semi-nômades, os territórios que percorriam e sua onomástica são idênticos aos descobertos nas tábuas de Mari, dando um novo valor aos relatos bíblicos que permaneceram. Esses documentos proporcionam uma nova visão de um mesmo fenômeno, do ponto de vista dos sedentários e do ponto de vista dos nômades. Esses nômades tinham suas próprias tradições mas não podiam deixar de se contaminar com o meio ambiente. Alguns costumes  relativos à adoção e à possibilidade de contrair matrimônio com uma esposa secundária, desde que  ela não se igualasse com a esposa principal, são babilônicos. Seus deuses, rituais e alimentação sofreram profunda influência dos    povos que mantinham contato em sua jornada sazonal. Esses criadores de carneiros podiam cobrir grandes extensões. Segundo se sabe pelas escrituras e registros decifrados saindo de Ur na Mesopotamia, a tribo de Abraão seguiu até Harran, o grande centro religioso do culto lunar que ficava no caminho das caravanas e a seguir tomou o caminho do Egito. Regressaria depois à Palestina, onde seus descendentes permaneceriam por algum tempo, antes de retornarem ao Egito nas pegadas de seus aliados Hicsos que lá permaneceram após causar grande destruição. Essas peregrinações muitas vezes eram pacificas, mas vê-se, pelo Cap. XIV do Gênese, que apresenta um sentido enigmático, com quanta rapidez esses povos organizavam uma pilhagem. Não satisfeitos com saquear aldeias e roubar gado, não vacilavam em atacar cidades a ponto de obrigar os reis a se refugiarem atrás de suas muralhas. Apesar das expedições punitivas vitoriosas, tudo recomeçava sempre, debilitando os reinos e facilitando sua sujeição por poderes estrangeiros ainda maiores.


Na "estela dos abutres", assim chamada pois numa de suas faces aparecem esses animais lançando-se sobre  os cadáveres mortos em batalha, erigida por Eannatum para comemorar sua vitória sobre Umma, o rei de Lagash, mostra suas tropas armadas com capacetes e grandes escudos em formação cerrada numa falange compacta, eriçada de lanças. Os carros de guerra puxados por quadrigas de onagros eram formados por uma caixa sobre quatro rodas maciças e protegida de um resguardo, onde se punham as lanças de reserva. O combatente, colocado atrás do auriga, levava um machado de guerra com olhal. Empregavam-se esses primeiros carros sobretudo na perseguição do inimigo em retirada, quando sua formação se desfazia pelo pânico ou perda da cadeia de comando. Dois séculos seriam necessários para novas estratégias serem estabelecidas.    


Envolta em lendas foi sobretudo a infância de Sargão, o rei de Acad, e um dos seus episódios em particular lembra a história de Moisés. Nascido de pai desconhecido e de uma sacerdotisa, em uma pequena aldeia às margens do médio Eufrates, sua mãe pretendeu livrar-se dele e o deixou, dentro de um cesto, ao sabor da corrente. Recolheu-o um horticultor do palmar, que lhe criou e ensinou seu ofício. Infância obscura, portanto, mas cedo iniciou-se a ascenção. O favor da deusa Ishtar aproximou-o da corte do rei de Kish, Ur-zababa, de quem se tornou copeiro. A seguir, Sargão sublevou-se contra seu senhor e fundou Agade, uma vila fortificada que iria tornar-se sua capital. De lá partiu  cerca de 2370 a.C., para tentar a sorte atacando "o novo rei do país", Lugal-zagesi. O  êxito foi completo, logo seguido da sujeição de toda a Suméria. O Elam por seu turno teve que submeter-se. Depois subindo o Eufrates, Sargão devastou o reino de Mari, conquistou a Síria do Norte e alcançou o Tauro. Talvez houvesse mesmo penetrado no coração da Anatólia, se é que tem fundamento histórico uma narrativa lendária, "o rei do combate", na qual se vê Sargão ultrapassar as fronteira da Mesopotamia para socorrer mercadores compatriotas estabelecidos nessas terras.               


Cotidiano


Sargão (2340-2284 A.C.) transformou-se no conquistador que travou guerras com as cidades vizinhas e depois contra os povos vizinhos, forçando o estabelecimento de uma hegemonia na região onde se encontram mais ou menos os limites do Iraque. No décimo primeiro ano do seu reinado foi em campanha até a Síria, o Líbano e o Sul da Turquia, podendo ter chegado ao Mediterrâneo. Uma inscrição sugere que tinha um exército de 5400 homens sempre prontos a sufocar as revoltas dos povos dominados que se rebelavam contra o domínio de um intruso semita. Sargão se autoproclamava “aquele que viaja pelas quatro terras”, isto é, o universo. Seu neto, Naram Sin (2260-2223 A.C.), intitulou-se “rei dos quatro quadrantes”, título do agrado dos imperadores. Sabe-se que tentou ampliar as fronteiras do seu império, fez campanhas até o monte Zagros, que separam o norte da Mesopotâmia da Pérsia. A situação de poder sobre seu império foi agravada pela revolta conjunta de várias cidades estado ao norte e ao sul que resolveram se unir contra ele. Diante disso o soberano foi obrigado a se envolver em nove batalhas durante um ano. Quando Naran Sin obteve suas vitórias, os cidadãos da Acádia oraram às divindades para torná-lo seu deus patrono e, assim ele passou a ser adorado em um templo. Enquanto os governantes anteriores se auto proclamavam  filhos dos deuses, Naram sin foi o primeiro a receber do povo a denominação de divindade soberana e protetora. Seu nome significa: o "Favorito de Sin", o deus lunar.


Naran Sin
  


Tanta prosperidade era um atrativo ainda maior para a ganância dos povos vizinhos, protocivilizações que por intermédio de guerras ou comércio aos poucos foram se estabelecendo lá por volta de 2000 A.C. Conforme atingiam os meios militares invadiam em ondas: gutos, hurrianos e cassitas, povos que emigraram do norte e tomaram parte ou toda a grande planície durante os mil anos seguintes.

Hititas -

O futuro da civilização no Oriente Próximo e, portanto o futuro do mundo conhecido foi decidido por uma nova invenção, na verdade um aperfeiçoamento de uma arma que iria estabelecer um novo equilíbrio de forças. Hititas, hurrianos, povos de origem indo-ariana, e os bárbaros hicsos de origem semita, desenvolveram o adestramento de cavalos e a arte da equitação, prática que já era comum aos povos oriundos da Ásia que invadiram a região. Criaram e aperfeiçoaram uma importante máquina da guerra móvel, uma carreta leve de duas rodas.

Entre os achados dos arqueólogos na antiga capital Hitita, Hattusas, foram encontrados registros escritos de um manual completo, um texto de umas mil linhas, contendo instruções para a criação e o adestramento de cavalos que remonta de pelo menos 3400 anos no passado. A linguagem do manual é hitita, mas seu autor identifica-se como um certo “Kikuli da terra de Mitani”: isto é, um Hurriano. Ele usa termos técnicos que são sem dúvida nenhuma de derivação sânscrita. Os reis hurrianos como foi descoberto pelos estudiosos possuíam nomes indianos que revelavam suas origens indo-arianas primordiais.


Arqueiro Hitita


Do texto se depreende que o hurriano foi contratado pelo rei hitita para formar suas armas como criador e treinador dos cavalos de guerra de acordo com os mais modernos métodos de adestramento conhecidos como seu cavalariço real. Ao que parece os hurrianos eram os mais adiantados criadores de cavalos da época. As regras estabelecidas por Kikuli possuiam grave pedantismo o que sugere ser ele possuidor de uma antiga tradição no ramo. Para adestrar convenientemente um cavalo estabelecia um período de no mínimo sete meses.


É evidente que nem os hititas nem os hurrianos podem ser considerados os inventores do adestramento de cavalos. Nenhum destes povos produziu os primeiros cavaleiros, pois como já foi mencionado foram criadas as eficientes máquinas de guerra mais para o Oriente, nos confins da Ásia, de onde vieram estes povos. Entretanto desenvolveram tais técnicas, sendo os hurrianos famosos pelo adestramento de cavalos para os combates de cavalaria. Dizem que podiam adestrar as montarias para que contivessem seus relinchos para não acusar sua presença na tocaia aos inimigos.


Entre os povos que viviam na região por esta época, a questão em pauta não é quem inventou a carreta mas quem a utilizou com maior vantagem no campo de batalha. Enquanto hurrianos, kassitas e os selvagens hicsos se espalhavam amplamente pela região, os hititas aprendiam com seus vizinhos a tecnologia inovadora de utilizar carretas e cavalos para fins bélicos. Fizeram aperfeiçoamentos no armamento, acrescentaram novas idéias, frutos de sua experiência em campo e inteligência para tornar a nova arma mais eficiente e mortífera. O pleno desenvolvimento da carreta leve de batalha foi obra dos hititas e com ela enfrentaram a maior potencia na época, a antiga civilização egípcia.


O cavalo que havia atingido um porte compatível e um adestramento compatível foi utilizado como animal de tração antes mesmo de ser criada a cavalaria, tão utilizada pelos povos do Oriente, mas que foi esquecida posteriormente por gregos e romanos que só utilizavam seus cavalos para corridas e as tropas de cavalaria bárbara como forças auxiliares dando primazia em suas estratégias militares para as manobras dos infantes.


Carro Sumeriano


Alguns estudiosos mencionam as carretas sumerianas como anteriores às dos hititas, mas pelos registros pictóricos nos mosaicos de Ur pode-se notar que são toscas carroças de quatro rodas inteiriças de madeira puxadas por onágros, com já foi dito, que deviam ter função principal de abastecimento de tropas ou eram utilizadas somente como apoio ou barreira para os infantes em combate, ou na perseguição de um exército em fuga, como seus similares posteriores, que pela lentidão podiam ser acompanhadas por um soldado a pé.


Carro Hitita


A carreta leve de batalha que os hititas aperfeiçoaram possuía rodas de seis raios que davam ao veículo, semelhante a um coche ingles do séc. XIX, leveza e mobilidade. Sua velocidade era a grande vantagem tática e formadas em linha revolucionaram a estratégia militar da época. Cada carreta de guerra hitita levava três homens: um condutor e dois guerreiros a cada lado dele,  um lanceiro ou arqueiro e um escudeiro. Esta arma mortífera que pelo seu trovejar, como menciona a Bíblia, fez tremerem os Sírios, causava pânico entre os soldados a pé quando ocorria sua aproximação em velocidade podendo desbaratar mortalmente suas linhas defensivas. Mesmo que suportassem sua primeira carga, os infantes se viam cercados, envolvidos pelo seu avanço furioso. Sob uma chuva de flechas, escutando os gritos de guerra dos atacantes protegidos com suas armas reluzentes, espezinhados pelos furiosos cascos dos cavalos adestrados para a guerra, um regimento de infantaria poderia ser tomado pelo desespero e em massa iniciar uma fuga predestinada, colocando todo o exército a perder como uma turba indefesa a ser massacrada ao fugir. Mesmo que algumas carretas fossem destruídas seus fragmentos infligiam graves ferimentos aos infantes. Os cavalos podiam ser atravessados por lanças, mas, em seus últimos estertores esmagavam os soldados sob suas carcaças agonizantes.


Por um período que compreendeu mais ou menos 120 anos, relativo ao reinado de quatro reis hititas, o reino vizinho de Mitani parece ter mantido uma dominação do Oriente Próximo, mesmo assim os hititas conseguiram conservar seus territórios longe das ambições de seus vizinhos, sendo que durante o reinado de Tudhalyias III, a pressão externa alcançou seu auge.

Após este período defensivo os hititas colocaram no poder o maior rei de sua história, o rei dos reis, o fundador de um novo império. Conforme os registros legados por seus escribas podemos entender neste personagem do passado aquela capacidade de liderança e ousadia que fazem os grandes conquistadores, e uma moderação com os vencidos incomum, associada a uma tolerância com as crenças dos povos da época. O que lhe guiava o governo era aplicação da pura justiça e a manutenção da boa moral.  Seu nome imortalizado pela história, Supiluliumas I (1374-1355 A. C.). 


Estas características do seu governo ficaram registradas para a posteridade nos numerosos tratados que firmou nos quarenta anos do seu reinado. Sabemos pelos documentos que ele deu em casamento sua irmã ao rei da terra de Hayasa, enviando uma comitiva com suas meio irmãs e damas de companhia. Em Hayasa ainda predominavam os antigos costumes tribais, que para os hititas pareciam bárbaros. Casamentos eram consumados em orgias sexuais e relações incestuosas entre familiares eram aceitas. Supiluliumas deplorava tais práticas. Escreveu uma carta ao rei, seu cunhado, com uma advertência: “Não são estes os costumes de Hattusas... Em Hattusas, quem comete semelhante ato não conserva a vida; é morto!” Como exemplo conta a história de certo Marijas, surpreendeu o próprio pai em ato incestuoso e fez matá-lo. “E conclue: Resguarda-te grandemente, portanto, de uma coisa por causa da qual um homem morreu”.

O tabu do incesto já havia sido estabelecido entre os hititas, mas muitos povos, seus vizinhos, se encontravam em plena evolução de valores sendo o casamento a forma aceita por todas as culturas de selar acordos entre famílias, tribos e nações diferentes. A ameaça velada era a forma mais eficiente encontrada pelo soberano para manter sua posição e impor sua moralidade ao cunhado, que deve ter pensado duas vezes antes de transgredir as regras hititas.

Hicsos – Os Povos do Mar – A Formação de Israel

Os hicsos não eram um povo na acepção da palavra, mas sim uma confederação de povos, uma união de interesses das tribos indo arianas e semitas que partiram de vários pontos para atacar o, na época,  decadente porém rico império Egípcio. Segundo os estudiosos são uma primeira leva de “Povos do Mar” associados com as tribos semitas que habitavam na época a Palestina. Eles foram descritos pelos egípcios como “senhores que habitavam um país de colinas estrangeiro”, estreitamente relacionados com os habitantes da Palestina do período médio III da Idade do Bronze. Levas de povos indo arianos chegaram no Oriente Médio vindos das estepes da Ásia. Cassitas, hurrianos e hititas chegaram ao Oriente Médio com seus velozes carros de guerra, e esse último invasor conseguiu até mesmo saquear a poderosa Babilônia.

Os povoamentos estavam sob a ameaça constante dos belicosos contingentes das tribos nômades semitas, alguns dos quais eram integrados nos exércitos, enquanto a outros se lhes oferecia um suborno de pacificação ou eram encurralados, tangidos e forçados ao serviço militar. Os yaminitas (também chamados benjaminitas que significa literalmente “filhos do sul”) e os sutu eram os que mais problemas causavam às povoações sedentárias. Também se destacavam pela agressividade os hapiru, um bando de saqueadores, cuja denominação é associada aos antepassados dos hebreus por alguns historiadores livres.

Da mesma forma, embora a maioria dos habitantes de Alalah e Nuzi fossem hurritas, alguns dos nomes de seus soberanos não eram hurritas mas derivações de nomes indo arianos (sânscrito védico) Entre estes encontram-se: Tushratta, que significa “cujo carro se levanta violentamente para a frente”: Artatama, “cuja a residência é a justiça”, e Shattiwaza, “aquele que obtém o espólio”. No tratado entre Shattiwaza e o rei hitita Suppiluliumas, o nome de alguns deuses mencionados como Mitrasil, Arunasil, Indar, Nassatyana, são derivações dos deuses indo arianos Mitra, Varuna, Indra e Nasatyas. Os historiadores estimam que os indo arianos invadiram a Índia pelo norte (vejam cemitério de Tarim) durante a metade do segundo milênio a. C. como os sakas (citas) e posteriormente os mongóis iriam também penetrar. É da Ásia Central donde vieram os antepassados dos indo arianos que deram origem aos persas e medos que migraram do Afeganistão e do Irã Oriental.

O reino de Mittani e seus vizinhos viviam em contato direto e interação entre os povos ários e semitas, às vezes convivendo outras combatendo entre si e impuseram sua presença graças ao poder bélico superior e ao uso eficiente dos carros de guerra puxados por parelhas de cavalos de tiro que possuem uma origem comum com seus amestradores nos confins da Ásia.

Mittani era denominada Hanigalbat pelos Assírios, enquanto para os hititas era “o país dos hurritas”. Os hurritas tinham aparecido 700 anos antes e nos primeiros anos do segundo milênio a. C. tinham formado vários principados na Mesopotamia. Cerca de 1480 a. C. , Parrattarna, o chefe supremo do rei Idrimi, unificou-os. Uma inscrição de caráter auto biográfico encontrada em Alalah, conta como Idrimi e seus irmãos fugiram de Alepo (Halab), a casa dos seus antepassados, para se refugiar em Emar com os pais da sua mãe. Como era um aventureiro sem pátria, pegou seu carro seus cavalos e seu palafreneiro e partiu em direção a Canaã à procura da sua fortuna. Na cidade de Ammia, encontrou gente de Alepo, de Mukish, de Nii, e de Amaú, que reconhecendo o filho de seu senhor, a ele se uniu. Passou sete anos entre os hapiru, grandes bandos de semitas que prestavam serviço a quem pagasse mais, quando não atuavam de forma independente como carniceiros contra cidades indefesas, antes de se dirigir ao país de Mukish, onde finalmente se  instalou. Alguns estudiosos relacionam os hapiru ou habiru como os antepassados dos hebreus pela semelhança do nome e localização dessas tribos. Embarcou sua gente e aportou na costa, próximo ao monte Cássio. A notícia de seu retorno franqueou as portas das principais cidade, com exceção de Alepo, onde reinava o usurpador em nome do soberano de Mitani. Dali, depois da mais sete anos, Idrimi enviou a Parrattarna, o rei hurrita, um embaixador com tributos, e após ter feito um juramento como seu vassalo, converteu-se em rei de Alalah, onde governou por trinta anos com relativa independência. Construiu um palácio com os despojos que conseguiu com suas incursões contra os hititas e reorganizou o culto, cuja direção confiou ao seu filho, o herdeiro de seu reino.

Como já vimos antes, os povos nômades não mantinham um padrão de vida uniforme. Os haneus, por exemplo, mobilizados nos exércitos de Mari, importante centro comercial mesopotâmico, encontravam-se em vias de sedentarização; mesmo praticando o comércio de caravanas e a criação de carneiros, possuíam terras e residiam em aldeias que tinham seus chefes. Os benjaminitas acusam um nomadismo mais intenso, embora também tenham estabelecido instalações permanentes, onde praticavam um pouco de cultivo. Seus chefes às vezes estabeleciam alianças como outros povos sedentários, contra os quais não hesitavam em se rebelar e efetuar ataques de surpresa de forma oportunista. Quanto aos sútios, permaneceram sempre puros nômades e temidos saqueadores.

Com efeito, os movimentos dessas populações são idênticos aos descritos nos textos bíblicos sobre as atividades do clã de Abraão, como sendo os mesmos povos de seminômades de que falam os registros de seus vizinhos. Os territórios que percorriam eram idênticos bem como os nomes descritos em ambos os registros. Esses documentos oferecem duas versões de um mesmo movimento, uma do ponto de vista dos sedentários, outra do ponto de vista dos nômades.

Muitos dos costumes adotados pelos povos nômades eram de origem hurrita, influencia que se tornou cada vez mais forte a partir do séc. XV na própria Palestina. As andanças dos teraítas mostram quão imensas extensões podiam percorrer esses criadores de carneiro. Saindo de Ur, na Caldéia, Abraão dirigiu-se à Harran, cidade na fronteira dos persas, outro grande centro lunar na Mesopotâmia, e a seguir tomou o caminho do Egito, sem dúvida como fariam as levas de semitas e indo arianos posteriormente. Retornou à Palestina, onde seus descendentes permaneceriam por certo tempo, antes de retornarem ao Egito com os hicsos. Esses movimentos migratórios se faziam de forma pacifica, mas a concentração de populações estrangeiras ao norte, próximos ao delta do Egito iria deflagrar uma primeira ameaça nunca vista antes pelo império Egípcio, quase levando ao seu fim definitivo.

O isolamento do país protegido por grandes extensões de deserto que tinha sido uma vantagem até então, passou a representar uma séria dificuldade para um povo com tecnologia inferior aos invasores dotados de uma organização militar e tecnologia bélica superior. Apesar do atraso, a riqueza do país atraiu a cobiça desses reis guerreiros que estavam acostumados a grandes marchas em regiões inóspitas.

Sua penetração no território egípcio foi no início pacifica e principalmente as tribos semitas vinham negociar suas mercadorias nas imediações no delta do Nilo até a altura da cidade de Menphis. Eram tolerados pelos faraós que viam uma oportunidade de ampliar o comércio com as mercadorias trazidas da Ásia pelos nômades caravaneiros. Aos poucos foram criando postos de comércio onde passaram a habitar cada vez com mais freqüência. Ao imporem sua presença, como era seu costume, imediatamente iniciaram os ataques, saques e pilhagens dos indefesos povos autóctones. Cananeus e amoritas eram maioria nesses bandos de guerreiros, mas não podemos deixar de entrever a influência ária em suas motivações expansionistas que iriam se repetir posteriormente e nos artefatos utilizados na conquista de procedência dos povos da Ásia Central.

A tecnologia trazida pelos imigrantes asiáticos envolvia produtos para o comércio cotidiano das feiras, mas também inovações bélicas que foram absorvidas nas muitas campanhas envolvidas no conflito que aos poucos equilibraram as forças entre os contendores. As novas técnicas incluíram a metalurgia com a utilização de cobre arsêniaco e da fabricação do bronze substituindo as importações de ligas do metal, o tear vertical, uma roda de moleiro aperfeiçoada, a introdução do zebu e de novas culturas vegetais e frutas, o cavalo e o carro de guerra, o arco composto, e novas formas de cimitarras e outras armas.

Chegaram a empossar um faraó estrangeiro enquanto a família real se refugiava ao sul do Nilo e prestaram culto à Seth-Suthek, como era de se esperar, pela afinidade que tinham com seu símbolo, o burro ou cavalo, com o qual identificavam seu totem de poder, mais uma prova de sua origem distante nas estepes asiáticas.
 
Um dos chefes hicsos se chamava, segundo inscrições, Jacob-her ou Jacob-el, colocando as tribos hebraicas também entre os invasores, no caso as tribos de Jacob, donde talvez tenha se originado o relato bíblico da elevação de José a uma alta dignidade no Egito. Alguns estudiosos pretendem que os invasores se viram pressionados por alguma mudança climática global que prejudicou as colheitas levando multidões a fome e a busca no Egito de um refúgio onde pudessem sobreviver à custa da riqueza da terra.

 Os hicsos nunca conseguiram submeter todo o Egito ao seu domínio, havia regiões no extremo sul que se mantiveram independentes, além disso, o próprio Fayum nunca aceitou o domínio estrangeiro e parece que a XIII Dinastia continuou reinando na região por todo o Segundo Período Intermediário. A tomada do poder pelos Hicsos devolveu a independência à Núbia, pois, com efeito, os estrangeiros não tinham condições logísticas para impor seu poder nas regiões mais ao sul do próprio Egito e jamais conseguiram transpor as cataratas do Nilo, pois dependiam do auxilio externo para revigorar suas tropas que eram mais bem armadas, mas estavam em menor número.

A situação da população, no entanto, não era das melhores, se por um lado há suspeitas de que durante o Primeiro Período Intermediário tenha havido um resfriamento do clima da África Central de modo a ocasionar cheias muito diminutas, no caso do Segundo Período Intermediário essas suspeitas se comprovam através de documentos da época. Com efeito, a política centralizadora dos últimos monarcas da XI Dinastia fez com que os diques de irrigação pública fossem desvinculados das tarefas dos nomarcas e vinculados às tarefas do Faraó. No entanto, se por um lado essa medida visava criar uma maior interação entre as regiões. Por outro, com a falência do poder central, os diques estavam fadados a também deixarem de ser cuidados, o que, certamente, ocasionaria fome e más colheitas (independentemente de cheias menos potentes do Nilo).

Seja como for, o fato é que existem relatos de fome extrema assolando o Egito em todas as partes, mas, sobretudo no Alto Egito. É compreensível que, com o fracasso da agricultura, os homens se voltassem para o extermínio dos animais como forma de busca por alimentos. Porém, depois que os animais de criação se esgotaram e que os poucos animais disponíveis também já haviam rareado, não sobraram alternativas a algumas populações além do extermínio mútuo, em outras palavras, o canibalismo.

Após meio século de sujeição ao invasor, os sacerdotes de Tebas, adoradores do culto de Amon, cidade na época reduzida a vassala dos invasores, resolvem se rebelar contra os opressores que comandavam seu território do norte, da cidade de Avaris, sua capital no delta do Nilo. Sekenenrê-Tao (criado e ousado por Amon) foi o primeiro a enfrentar o avanço dos hicsos e na batalha foi morto. Entre os anos de 1640 e 1585 a.C., sucederam-se três governantes hicsos no trono de Aváris: Salatis, Sheshi e Khian. Em 1585 a.C., passou a reinar Apófis (Awoserre). Apóphis provocava os egípcios com os motivos mais banais, tentando-os à guerra.  Deu-se a primeira batalha entre o hicso Apófis e o Faraó Sekenenré Tao II (de cognome "o Bravo") da 17.ª Dinastia. O exame da sua múmia mostrou que ele morrera violentamente, seu crânio apresenta uma perfuração, talvez tenha tombado em combate. Seus fiéis súditos recolheram seu corpo após a batalha e o mumificaram depositando seus despojos em uma tumba sem luxos para sua função de faraó. Os tempos eram conturbados e não permitiam a ostentação. Duas estelas de seu sucessor Kamósis descrevem as escaramuças entre os tebanos e os hicsos que haviam buscado alianças estratégicas com os núbios ao sul, obrigando os egípcios a lutar em duas frentes. Kamósis chegou até Avaris e estendeu sua campanha até Buhen, ao sul, mas também como seu antecessor foi obrigado a uma vida atribulada que logo chegou ao fim. Sua múmia mal preparada não resistiu ao tempo virando pó.

O sucessor de Kamósis, Amósis expulsou em definitivo os hicsos de solo Egípcio por volta de 1532 a. C., muitos anos depois das primeiras intervenções de seu antecessor. Após a sua vitória empreendeu campanha na Palestina onde haviam se abrigado os hicsos com seus aliados semitas. Na Núbia lutou ao sul até a ilha de Sai enquanto ao mesmo tempo enfrentava uma revolta no Egito. Seu reinado foi de expansão territorial e consolidação do Egito como poder maior no Médio Oriente e sul do Nilo. Em fuga dos exércitos egípcios algumas tribos resolveram fundar um reduto fortificado na Palestina que no futuro iria dar lugar a Jerusalém. O exército egípcio só estancou sua ofensiva ao se deparar com as forças de Mitani, o que prova que mesmo indiretamente os hurritas tivessem interesse nos movimentos dos hicsos, com quem deveriam ter afinidades comuns de origem e interesses econômicos.  

Como a própria história ensina o mito da pureza racial desses povos não resiste à narrativa dos acontecimentos. A miscigenação era preponderante e fazia parte inclusive dos costumes tribais baseados na herança matriarcal de descendência comum aos povos semitas e possivelmente também costume aceito entre os povos indo ariano. O que era um costume oportuno por incentivar a diversidade do ponto de vista seletivo para o fortalecimento filogenético dos descendentes diretos do clã. Já vimos como isso sucedia entre as tribos ameríndias e como era importante no seu relacionamento intertribal, inclusive com seus inimigos cativos a serem devorados. Outro costume comum era o empréstimo da esposa ao visitante notório, como conta a Bíblia, prática aceita até hoje entre as tribos de caçadores coletores remanescentes.

Os povos nômades semitas que serviam como tropas auxiliares eram carniceiros oportunistas e conforme a sorte do combate debandavam ou mantinham a posição como é comum entre os exércitos nessa época. Preferiam a guerrilha ao combate direto, a emboscada e o ataque lucrativo das caravanas e cidades agrárias indefesas que pudessem pilhar e saquear sem medo. Encontraram com seus aliados ários, no Egito, a riqueza que tanto buscavam, uma sociedade que pelas condições geográficas estava desprotegida e que acreditava que as barreiras naturais seriam suficientes para desmotivar a ação de tribos de predadores que habitavam alhures. Suas barreiras militares e fortificações no início do conflito foram insuficientes para impedir que as hordas de guerreiros protegidos pelos carros de guerra trouxessem a destruição ao seu país que acreditavam sagrado. Só a assimilação das técnicas dos invasores e a incorporação do conceito de guerra total dos povos invasores e a reprodução dos avanços bélicos permitiram o equilíbrio de forças, capacidade de assimilação, aliás, que os egípcios tinham de sobra em função de sua cultura milenar.

Esse não seria o ultimo desafio desse povo que era conhecido no mundo antigo pela riqueza de suas terras e o assédio iria se repetir periodicamente de forma incessante até o séc. XX por povos indo arianos e seus descendentes asiáticos e europeus.      

 Os Povos do Mar -
As civilizações sedentárias iriam tremer ante a coligação desses guerreiros nômades que repentinamente surgiram no horizonte de eventos da sangrenta história da humanidade. A tormenta que varreu o império hitita que ainda se encontrava poderoso dá uma idéia do poder avassalador dos seus inimigos.

Nas primeiras décadas do séc. XII a. C. ocorreram amplos movimentos de povos na região mediterrânea. Os egípcios foram ameaçados por terra e por mar por uma confederação de tribos, a que denominaram “Povos do Mar”. Merneptah (1244 a 1214 a. C.) e depois Ramsés III (1194 a 1163 a.C.) expulsaram-nos. Algumas destas tribos, como a dos meshwesh, os shardan e os denyen já estavam estabelecidos no Oriente Médio, enquanto outras tribos eram recém chegados. Ramsés III descreveu assim o ataque que se produziu no oitavo ano do seu reinado:

“Os países estrangeiros tramaram uma conspiração nas suas ilhas. Subitamente todos os países foram sacudidos e disseminados na contenda. Nenhum país pode resistir às suas armas, de Hatti, Kode (no vale do Oronte ), Carchemish, Arzawa, e Alashiya (Chipre) foram também destruídas. Um acampamento instalou-se num lugar de Amurru. Exterminaram o povo e o seu país era como se nunca estivesse existido. Aproximaram-se do Egito com a chama preparada diante deles. Era a liga de Peleset (Palestina), Tjeker, Shekelesh, Denyen, e Meshwesh, países aliados entre sí”.

As informações que chegaram até nós sobre esses povos são fragmentárias e suas origens são nebulosas gerando especulações entre historiadores e linguistas mas podemos deduzir que os "Povos do Mar", isto é, aqueles que desembarcaram de naus seriam os seguintes:

Os Shardana, cujo nome pode relacionar-se com o de Sardenha (Sardeña, Sardinia, Sardegna) e alguns autores lêem no texto fenicio de uma estela de Nora a locução bê-shardan. Na cultura sarda dos nuraga megaliticos, construtores de torres de pedra que tinham utilidade defensiva e serviam possivelmente como templo de culto e residencia dos seus chefes,  naturais da Sardenha, as estatuetas de bronze que representam guerreiros assemelham-se notavelmente aos gravados de Medinet Habu e a outros restos chipriotas.

Os Lukka, (Lícios) que aparecem nas tábuas de amarna. Viviam das suas potentes frotas, costeando o Chipre e o sul da Anatolia e realizando ações de pirataría. Parece que os hititas os consideravam como um verdadeiro estado marítimo.

Os Ekwesh ou Akawasha poderiam ser os ahhiyawa dos hititas e é verosímil que se trate dos aqueos micénicos, gregos, acaso já estabelecidos no ocidente anatolio (a Mileto grega poderia ser a Millawanda/Millawata dos textos hititas) e, que é a teoria mais aceite.

Os Teresh ou Tursha, algum autor põe em relação o seu nome com o hebreu Tarshish ou de Tarso, cidade no sul da Ásia Menor e com oss hispânico Tartessos naturais de Cádiz.

Os Shekelesh relacionaram-se com Sicília e os sículos. Este povo chegaria à ilha depois de serem repelidos no Egipto por Ramsés III numa das maiores batalhas navais da história.

Os Peleset são com quase total segurança os filisteus ou palestinos. Ainda que não aparecem na documentação de Hatti, a Biblia situa-os procedentes de Kaftor, que poderia ser Creta. Apresentam rasgos micénicos, ainda que outros autores preferem situar a sua origem na Síria setentrional ou no Cáucaso.

Os Tjeker lembram o nome de Teucro, lendario fundador de Salamina no Chipre, epónimo dos teucros (na Tróade). Similares aos peleset, talvez procediam de Anatolia e foram mencionados pelos hititas. Ao que parece foram o ramo marinheiro de um grupo no que os peleset seriam os do interior.

Os Denyen poderiam ser os anatolios danuna mencionados em Amarna. A semelhança com o nome dánaos relaciona-os com os aqueos, já que é outro nome antigo dos gregos micenicos. É possível que se aliaram com os peleset e os tjeker, partilhando com eles terras e assentamentos. Provavelmente fundiram-se com os hebreus e, neste caso, seriam as componentes da tribo hebraica de Dã, que viviam do mar. Segundo a Biblia tinham uma aliança histórica com os filisteus


Os Meshesh ou Weshesh, que poderiam estar vinculados a Wilusha (Ilión – Tróia em hitita ), pelo que se sugere que sejam os restos dos povos troianos.


Eram como uma onda avassaladora, uma colcha de retalhos de povos que foram criando uma pressão populacional insustentável para as nações da época e representavam todos os desalojados de suas terras por outros conquistadores também indo arianos que viviam mais além e que lhes causavam maior medo e aversão do que os povos que viviam no Oriente Médio e se aliaram aos oportunistas e traiçoeiros povos seminomades semitas que já habitavam na região apartados do desenvolvimento urbano e agrícola dos sedentários.

"Eles puseram as mãos sobre as nações em toda a volta da terra, com corações confiantes: Nossos planos serão um sucesso".

Porém o faraó do Egito, Ramsés III, antecipou-se a esses planos e avançou com seus exércitos para frustrá-los. E num movimento diversionista permitiu que os inimigos com suas naus com proas e popas com o formato de cabeças de pássaros penetrassem nas águas rasas do Nilo. Então montou a armadilha: as galeras de fundo chato egipcio encurralaram os invasores perto do delta tornando-os presas fáceis para os arqueiros que atiravam de terra. Os Povos do Mar aparentemente foram pegos de surpresa, pois os relevos egípicios sobre a batalha indicam os navios inimigos com as velas arriadas e remos recolhidos. Caindo sobre o inimigo os egipcios enviaram suas flechas mortais. Os inimigos estrangeiros dependiam de suas espadas e lanças, armas de curto alcance, e preferiam o contato corpo a corpo no combate, adequadas para seus ataques piratas mas inadequadas naquela batalha. Seus navios foram presos por arpéus e afundados, os sobreviventes foram aprisionados ao chegar à praia. 

"Aqueles que entraram na desembocadura do rio foram como pássaros apanhados na rede", o cronista egípcio exultou: "seus líderes foram presos e mortos. Eles foram lançados ao chão e manietados"   
  
O Egito resistiu, mas Hatti e Ugarit sucumbiram, tal como muitas cidades estado do Levante e da Grécia micênica invadida pelos dórios condenada ao caos e a destruição de toda sua civilização. O reino hitita sob o reinado de Arnuwanda III se viu cercado pelos povos que tomaram a meseta da Anatólia. Os povos coligados aqueus, lícios e os mushki e frígios, todo o Oeste anátolico achava-se unido e em pé de guerra contra Hattusa, a capital hitita. Esses mesmos guerreiros iriam ser encontrados entre os invasores que tentaram invadir o Egito. Merneptah logrou detê-los e enviou socorros em trigo aos hititas, com o objetivo de sustentar seu esforço de guerra contra o inimigo comum.

Morto Arnuwanda, seu jovem irmão Suppiluliuma II incorporou o nome já conhecido do antigo herói da nação talvez para galvanizar a resistência contra os invasores.  Entre os hititas nada antevia um enfraquecimento. O tratado com o rei de Carchemish, Talmi-Teshub, foi renovado normalmente; Ammurapi de Ugarit permanecia um aliado fiel: uma vitória naval garantiu aos hititas a posse de Chipre e Suppiluliuma II interviu militarmente no alto Eufrates, contra a Assíria. A seguir silêncio definitivo.

No Levante, as cidades hititas de Carchemish e de Malatya iriam sobreviver ao turbilhão virando principados independentes. O controle egípcio sobre a Palestina estava enfraquecido e os povos conhecidos como peleset se estabeleceram ao longo da costa dando seu nome ao país, Filisteia  ou Palestina. Segundo a tradição hebraica eram originados de Creta. Ao final do séc. XII o domínio egípcio terminou. A efervescência em toda a bacia do Mediterrâneo oriental, segundo os estudiosos, era conseqüência das invasões de povos indo arianos, os dórios, empurrando na sua frente todas as antigas populações do mar Egeu.

Podemos atribuir aos aqueus (aqayawas), tirsênios (turush), danuna e filisteus pela derrocada do império hitita? Os principais responsáveis pela catástrofe foram invasores vindos da Europa: o planalto anatólico foi ocupado por frígios vindos da Trácia e por uma população a eles aparentada que os assírios chamariam mushki, os mushkói de Heródoto, originários das montanhas do Mar Negro, na atual Russia. E como duvidar que outros povos como os gasgas não se aproveitaram da situação para fazer pressão contra seus antigos inimigos? Eles tornariam a ser encontrados no alto Eufrates; os mushki instalaram-se em Comagena, enquanto alguns pequenos reinos hititas irão subsistir no norte da Síria. Entretanto a maior parte da Síria foi devastada. Cilícia, Ugarit, Carcemish, Amurru, Alalah arderam uma após a outra. Chipre não foi poupada. Finalmente foi atingida a Palestina, uma guerra de atrito entre filisteus, mais bem armados e os israelitas que viviam no interior montanhoso. Eles entraram numa luta sem trégua por território, mas que estabeleceu uma relação de troca de interesses peculiar entre esses dois povos, como a própria bíblia confessa.
      
Como já mencionamos os filisteus não foram os únicos a adentrar na região. Quase na mesma época surgem referências aos israelitas, mencionados pela primeira vez na estela de Merneptah onde celebra suas vitórias na Palestina afirmando “Hatti está pacificado”. O estabelecimento dos israelitas na terra de Canaã é anterior à campanha de Merneptah no Hurri, visto que o faraó se vangloria na inscrição acima citada.

“Canaã foi vencida; Guézer foi capturada; Yenoan foi aniquilada; Israel está  desolado e sua raça  já não existe”.

Neste texto hieroglífico, Israel é indicado como povo e não cidade ou país, o que determina sua existência na época como um grupo de tribos nômades do deserto que afluíram para aquela região, vindos das estepes desérticas. Os relatos bíblicos não encontram apoio em nenhum outro documento da época sendo difícil estabelecer outros pormenores. Como oportunistas por tradição, se imagina que após chegarem pacificamente na região aos poucos foram solapando o poder cananeu até sentirem-se fortes o suficiente para tomarem as suas cidades. Eram conhecidos por usarem estratégias de guerrilha ao enfrentar inimigos mais poderosos. O texto egípcio seria um dos primeiros de uma longa série de vãs afirmativas sobre sua destruição total.

Arqueologicamente se comprova que  certo número de cidades palestinas foram ocupadas  pelos israelitas nessa época, e sofreram destruição violenta pelos seus ataques, e que o movimento foi de certa amplitude. É evidente, por outro lado, que o movimento não se operou de uma vez só, que a penetração assumiu formas diversas.

Nas cartas de Amarna encontramos a referencia aos sutus, já mencionados antes, e os ahlamu, tribos semitas provenientes dos limites do mundo civilizado. O rei assírio, Shamanasser havia combatido em 1100 a. C. contra os ahlamu que os seus contemporâneos associavam aos arameus, um grupo de semitas do nordeste.

Os arameus ocuparam grandes faixas de terra do Levante e da Mesopotâmia e sua influencia lingüística e sua invenção da escrita  alfabética e fonética veio a substituir aos poucos a escrita cuneiforme babilônica e assíria.

Os israelitas de nada diferiam desses povos em suas aspirações por territórios e busca constante de pastagens para suas criações como faziam todos os seminômades e com certeza sua origem era comum. Como vimos anteriormente sempre serviram como tropas auxiliares para as potências que surgiam em seu horizonte de eventos históricos, como oportunistas que eram, visando sempre garantir a sobrevivência dos seus. Podiam ser feitas alianças com esses povos ou simplesmente eram tangidos para as frentes de batalha como servos de seus senhores bem melhor armados. Talvez isso explique a necessidade do faraó de garantir a destruição de seus principais redutos e com isso impedir seu uso pelas hostes que ingressavam no Oriente Médio em busca de terras e das riquezas conhecidas pertencentes aos egípcios, e que tinham já usado anteriormente a região como cabeça de ponte para a conquista do Egito.

O êxodo do Egito foi mantido na tradição israelita como um período de opressão seguido de uma marcha que durou anos pelo deserto de Sinai. Procurou-se identificar os faraós que usaram esse povo como mão de obra para realizar obras nas cidades de Píton, Ramsés e Avaris, a antiga capital dos hicsos sem muita exatidão. Ainda que não se possa aceitar integralmente os pormenores dos relatos bíblicos, datas e fatos, já que foram redigidos a partir do séc. X e XI, sua história seria incompreensível sem a figura de Moisés, apesar do anacronismo do registro biblico em relação aos tempos e eventos conhecidos da história da humanidade.

Não é certo que o conjunto de populações que constituiriam Israel houvessem de fato participado do êxodo. Vários indícios levam a crer que grupos afins de semitas permaneceram na Palestina central, mais precisamente, na região de Siquém, poupada da destruição e que assimilaram os recém chegados. Esses grupos não eram homogêneos e possuíam origens diversas e se infiltraram por vários caminhos, uns por Jericó, outros diretamente pelo Neguev. Todas essas populações falavam idiomas semíticos e apesar do enfraquecimento dos cananeus pelos egípcios a influência cultural deles sobre as populações seminômades foi importante. Sua distribuição geográfica nas regiões montanhosas do interior, fracamente povoada garantiu relativa segurança aos seus movimentos e assim disseminaram seus redutos entre as populações não israelitas. Só ao fim do séc. XI a. C. vieram a enfrentar os filisteus, quando estes chegaram para garantir sua retaguarda,  receber contribuições em gado e gente e estender seu poder ao interior. Ao tempo que se instalaram na costa os filisteus criaram suas cidades fortificadas: Gaza, Ascalon, Asdod, Ekron e Gath. Herdeiros dos cananeus, que haviam expulsado, no poder do território da Palestina, tinham uma melhor coordenação em suas ações militares por meio das quais atingiram um poderio cada vez maior. Sua presença iria obrigar aos povos seminômades uma importante transformação política e religiosa. A formação de Israel, segundo os estudiosos, é apenas um caso particular inserido nesse processo global de grandes transformações, graças à derrocada das grandes potências que viviam um retrocesso motivado pela devastação da guerra que poderia ser percebido pelas populações, sob o prisma da época, como um fim dos tempos por inspiração divina, mergulhando o mundo do Oriente Próximo no que se chamou Era das Trevas. É desse período que surgiram os relatos de canibalismo que sobreviveram nos mitemas dos gregos e dos demais povos da região. O deus canibal agora se chamava Ares, a discórdia, com suas armas longas e escudos. 
                           
Assírios -

Nesse período de guerras constantes, mais ao norte a cidade de Assur se encontrava em ruínas. No local do templo de Ishtar apenas se elevavam choças miseráveis. Na planície de um lado e de outro deviam errar esses "reis que viviam em tendas", que os Assírios colocarão nos primórdios de sua história. É possível que esses chefes fossem designados por sorteio para conduzir a incursão anual. Seu calendário conservou as denominações primitivas das festas e eventos cuja existência deve datar dessa época: "mês da partida para a guerra", "mês dos pastores", "mês de Sin"(o deus lunar era muito venerado entre os nômades), "mês da maturação das colheitas", etc. Tais denominações são reflexo de uma civilização de semi nômades. Ao lado da criação e da agricultura, certamente praticavam o comércio caravaneiro, numa escala bastante ampla. 


Carro Assírio

Com o surgimento do poder Assírio a Mesopotamia vivia a realidade de um regime militarista não muito diferente dos seus vizinhos próximos. Nas cidades haviam guarnições permanentes e, em vésperas de campanhas, recrutavam-se tropas tanto entre os sedentários como entre os nômades, especialmente os haneus. Seu número, por ocasião de operações importantes, como o cerco de Nurrrruqum, podia elevar-se a 60.000 homens. O seu exército estava equipado com material de assédio, inclusive torres de assalto e aríetes. Utilizava-se a técnica de circunvalações, construíam-se em terra rampas de assalto que alcançavam o alto das muralhas, bem como galerias de minas. Esse desenvolvimento do poderio militar, porém, não era exclusivo da Assíria, ainda que variassem as modalidades de organização de um lugar para outro. O caráter guerreiro não se mostra nem mais nem menos acentuado entre os assírios que entre seus vizinhos, já que as guerras se faziam para garantir a sobrevivência e soberania das cidades estados em constante conflito.

Os Assírio demonstraram especial interesse por novas técnicas na arte e na ciência da guerra.  Seus imensos exércitos no apogeu do império  chegaram a até 200 mil homens divididos em quatro armas distintas e diferentes etnias. Na infantaria ligeira havia arqueiros armados com poderosos arcos compostos, construídos com madeira colada em camadas e material de origem animal que o dotava de flexibilidade, potencia de tiro e precisão. A infantaria pesada, uma tropa de choque que empunhava lanças e espadas de bronze. Utilizavam carros de guerra e também cavaleiros que foram evoluindo em termos de mobilidade e poder de ação. No início, os cavaleiros não eram mais que arqueiros com alta mobilidade, cada um acompanhado com um auxiliar também montado, que segurava as rédeas do cavalo do arqueiro enquanto ele desmontava para atirar as flechas, como numa estratégia de caça.  Mais tarde o auxiliar passou a carregar um escudo e segurar as rédeas dos dois cavalos em movimento, enquanto o arqueiro atirava as flechas a galope. Por fim com a evolução das habilidades equestres o cavaleiro atirava as flechas sem necessidade de apoio, como seriam  seus  predecessores. 

Cavaleiro Assírio
            
Um exército assírio podia marchar 50 Km por dia pelas estradas construídas para esse fim por engenheiros militares por todo o império. As estradas serviam como importante meio de comunicação onde mensagens podiam ser levadas de um canto ao outro por um sistema de correio de mudas de cavalos. Mesmo em terreno acidentado as tropas assírias formadas de robustos soldados imprimiam uma velocidade assombrosa para a época. Quando entravam em combate aplicavam a guerra total como método de agressão para subjugar as cidades estado que faziam parte do seu império ou que pretendiam conquistar. Nos registros que deixaram encontramos o testemunho de seu comportamento onde se percebe a ancestralidade antropofágica de seus senhores: "Cortei-lhes o pescoço como se fossem ovelhas", relatou um rei. "Meus corcéis empinados mergulharam no sangue, que jorrava como num rio, as rodas de meu carro ficaram salpicadas de sangue e sujeira".

A agressão militar como sempre era legitimada pela religião, questão recorrente na história da humanidade, conquistar era missão das classes nobres e de seus reis sacerdotes que tinham uma missão divina. Clamava um rei: "Assur, pai dos deuses, dai-me poder para alargar as fronteiras das terras da Assíria".  No reinado de Assunarsipal II os Assírios estavam novamente em marcha para o oeste levando as tropas assírias pela primeira vez após duzentos anos em direção ao Mediterraneo.

"Provoquei grande morticínio", vangloriou-se ele. "Destruí, demolí, queimei. Aprisionei os guerreiros deles e empalei-os diante de suas cidades". Após saquear uma cidade empilhou os mortos como se fossem lenha do lado de fora dos portões. "Esfolei os nobres, tantos quantos haviam se rebelado, e estendi suas peles sobre as pilhas". Em outra batalha que matou 3 mil e fez muitos prisioneiros, ele registrou: "Muitos dos cativos queimei numa fogueira. Muitos levei vivos; de alguns cortei-lhes fora as mãos, de outros o nariz, orelhas e dedos; arranquei os olhos de muitos soldados. Queimei até a morte os homens e mulheres jovens". Todos os reis sacerdotes utilizaram do terror para amendrontar seus inimigos. Os assírios não foram exceção e nem tem primazia pelo comportamento etnocida e antropofágico.  Sua fama de crueldade foi superlativada infelizmente pela passagem biblica da deportação dos hebreus da Samária e sua ocupação por outros povos semitas. Logo seu império seria suplantado pelos caldeus e medos após a diluição de seu povo entre os muitos povos por eles dominados que passaram a depender cada vez mais para manter seu poderio e enfrentar as ameaças externas.  

No início do séc. XI a. C. nenhum desses povos imaginava o perigo que iria transtornar seu destino: nos confins do deserto siro-arábico erravam bandos de nômades denominados arameus, cuja penetração era facilitada pelo desaparecimento dos quadro políticos da Palestina e grande parte da Síria, assim como o esgotamento dos grandes reinos mesopotâmicos, após dois séculos de lutas incessantes. Os nômades em vagas cada vez mais densas, seguiam as vias tradicionais de migração comum a esses povos e seus rebanhos que, a partir da Palestina e do Djebel Bishri região localizada ao norte do Eufrates, ladeavam  o curso médio desse rio. A catástrofe seria desencadeada por uma sucessão de períodos de penúria, mas sua extensão certamente é consequencia de um forte aumento populacional que por diversas vezes avassalou  a Babilonia com suas invasões e com sua permanência na região. As invasões aramaicas, na verdade, prolongaram em direção à Mesopotâmia a dos "povos do mar".

Essa expansão populacional agressiva determinou o destino do antigo Oriente Próximo a partir do séc. XII. Os arameus provocarão uma formidável reação militar na Assíria e a ascenção de novo poder na Babilônia. Dominaram a Síria. Sua lingua iria impor-se suplantando o hebraico na Palestina e tornando-se a lingua oficial do império persa. Povo cuja história permanece obscura, quase sempre dependeu de relatos indiretos pelos conflitos gerados com os vizinhos que mantinham em constante atenção pelos seus movimentos agressivos. Esse foi o caso na virada do I milênio.

O rei da Assíria havia acabado de restaurar o poder de dominação na região quando ocorreu a imprevista intervenção dos arameus que traria consequencias desastrosas para ambos os reinos que antes viviam em luta: Assíria e Babilônia. 

Uma crônica, infelizmente mutilada, deixa entrever a trama dos acontecimentos. Como acontece nessas ocasiões de caos, a fome provocava até atos de canibalismo. Os arameus cortaram as estradas e penetraram nas aldeias assírias, abandonadas por seus habitantes que buscaram refúgio em Kiruri, a leste de Arbela, e deixaram para trás seus pertences aos famélicos invasores. Um pouco mais tarde, adviria nova catástrofe: as colheitas foram perdidas por completo na Assíria. Os arameus então estenderam suas incursões até as muralhas de Nínive, obrigando Tiglat-falasar I a se refugiar nas montanhas de Katmuhi. A crônica interrompe-se com essas sombrias perspectivas, sem informar o que sucedeu na Babilônia, mas tudo leva a crer que ambos os países começavam a lutar pela sobrevivência.

A resistência feroz de Tiglat-falasar I e seus obscuros sucessores foi o que desviou a atenção dos arameus para presas mais fáceis. Essa interminável guerrilha iria transformar o caráter da Assíria, convertendo-a numa nação de guerreiros cruéis, como eram seus vizinhos, mas bem melhor adestrados na arte da guerra. Constituia-se assim o aparato militar que iria, alguns anos mais tarde, abalar o Oriente Médio. 

Bibliografia: Texto extraído e adaptado:
1) "O Oriente Próximo Asiático - Das origens às invasões dos povos do mar" - Garelli - 1982
2) "O Oriente Próximo Asiático - Impérios Mesopotâmicos - Israel" - Garrelli e Nikiprowetzky - 1982         



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