A herança ancestral da cultura indo ariana permeia toda a cultura do Ocidente como estrutura arcana dos processos econômicos e políticos que regem as massas desse lado do planeta, e sua influência, por difusão, alcançou os quatro cantos da terra e as outras culturas planetárias de forma abrangente. Nos últimos quatro mil anos ou mais, desde que os primeiros guerreiros pastores deixaram as planícies da Ásia e se espalharam pelo planeta, o arrefecimento de seus ideais de nômades para o sedentarismo não modificaram entretanto sua mentalidade belicista e escravocrata, de cunho antropofágico, estruturada de forma subliminal no mito do herói. Por mais que tentem personagens isolados como Jesus e Buda, ícones pacifistas que foram adorados e deificados pelas religiões oficiais, e pregaram contra os aspectos desumanos e antropofágicos dos conflitos humanos, por mais pesquisas realizadas pelos cientistas sobre o comportamento agressivo da humanidade e suas origens, nada ou muito pouco mudou no ideário dos governantes em relação a necessidade do conflito permanente para manter sua autoridade sobre as massas, cada vez mais numerosas.
Pelo contrário, estudiosos, "especialistas em conflitos", tem reforçado o aspecto competitivo e os choques inevitáveis de diferentes civilizações, pois as mentalidades desses indivíduos, inerentes a sua própria cultura, mesmo sendo sociólogos e analistas de comportamento, estão impregnadas por seus conceitos sócio-políticos darwinistas realçados pela necessidade de competição entre os grupos humanos onde só os mais fortes sobrevivem. Nesse caso falta distanciamento crítico e sobra viés cultural.
O séc. XIX marcou mais uma grande expansão dos povos de origem indo ariana oriundos da Europa, um poderio sem precedentes, que em comparação aos poderes de Roma, Espanha, Bagdá ou Constantinopla, em seu apogeu, eram esses muito menores. Grã Bretanha e França e depois os Estados Unidos com sua ideologia expansionista de busca de terras e riquezas fizeram desse século o que se denominou a "ascensão do Ocidente", e esse poderio crescente assegurou aos respectivos centros metropolitanos imperiais a aquisição e acumulação de territórios e súditos a uma escala verdadeiramente assombrosa. Considere-se que, em 1800, as potências ocidentais reivindicavam 55% mas detinham na verdade 35% da superfície do globo, e em 1878 essa proporção atingiu 67%, numa taxa de crescimento de cerca de 220 mil quilômetros quadrados por ano. Em 1914, a taxa anual havia subido para vertiginosos 620 mil quilômetros quadrados, e a Europa já detinha um total aproximado de 85% do mundo, na forma de colônias, protetorados, dependências, domínios e commonwealths. Nunca existiu em toda a história um conjunto tão grande, sob domínio tão completo, com um poder tão desigual em relação às metrópoles ocidentais, relação essa que só seria contestada após o fim da II Guerra Mundial pelos movimentos de independência nacionais influenciados pelo marxismo, ideologia de origem também européia. Seus reflexos no que diz respeito à liberdade das nações ainda hoje se fazem sentir.
Como diz Michael Dole: "O império é uma relação, formal ou informal, em que um Estado controla a soberania política efetiva de outra sociedade política. Ele pode ser alcançado pela força, pela colaboração política, por dependência econômica, social ou cultural. O imperialismo é simplesmente o processo ou a política de estabelecer e manter um império".
Desde 1917 os governos imperialistas tem investido na propaganda como forma de influenciar os públicos internos e externos sobre a necessidade da guerra para impor a democracia e a justiça no mundo. Os seus principais objetivos junto ao público, na I Guerra Mundial, como nas outras que iriam posteriormente acontecer foram: 1) mobilizar e dirigir o ódio contra o inimigo e solapar a moral deste; 2) convencer o público interno da justiça da causa aliada e aumentar e manter seu espírito combativo; 3) desenvolver a amizade de neutros e fortalecer seus espíritos e crença de que não só os aliados estavam certos como no fim seriam vitoriosos, e, se possível aliciar seu apoio e cooperação ativos; 4) Desenvolver e robustecer a amizade das nações que combatiam ao seu lado. O slogan que ingleses e franceses utilizavam na época era: "A guerra para acabar com todas as guerras".
Quaisquer que fossem as técnicas usadas por ambos os lados, a ideia básica era formar atitudes e sentimentos fortes no seu próprio grupo, acompanhadas de atitudes contrárias de ódio voltado contra o inimigo como perigoso grupo estranho, mecanismo esse que parece quase inato no homem quando se defronta com frustrações e ansiedades. Desde que inicia sua amamentação o nascituro interpreta o seio gratificador como objeto "bom", o frustrador como objeto "mau", até que em época posterior de maturação os aspectos positivos e negativos dos progenitores levam o individuo a uma ambivalência onde coexistem sentimentos de amor e ódio. De onde se originam vários pares de opostos como preto e branco, bom e mau, conceitos apelativos largamente utilizados pelos técnicos da comunicação para induzir através da propaganda os sentimentos de ódio exacerbado ao inimigo, bem como aliviar nosso próprio sentimento de culpa quando também nos comportamos brutalmente contra o inimigo e, por projeção identificamos nossos próprios instintos maus nos antagonistas fortalecendo nosso sentido de moral e aumentando nosso sentido de unidade grupal.
Não existe nada como a guerra, dizem os especialistas, para derrubar os obstáculos de classe e outros e para criar sentimentos de irmandade e cooperação dentro de um país, porque toda a agressividade e ressentimento anteriormente voltados para dentro do sistema passam a ser dirigidos contra o inimigo externo (ou até mesmo um inimigo interno composto por algum grupo ou minoria ), e após terminado o conflito mais uma vez a desunião de classes volta a imperar. Foi o caso quando na I Guerra Mundial as forças do patriotismo predominaram sobre os sentimentos do marxismo internacional que até então haviam unido os proletariados da França e Alemanha e levaram milhões de soldados para a luta de trincheiras e que resultaram baixas de ambos os lados em escala industrial. Devemos lembrar que nessa época as comunicações ainda eram escassas e estavam baseadas em panfletos, jornais e filmes, pois o rádio ainda não tinha sido difundido.
As notícias de atrocidades do inimigo, muitas vezes veiculadas como boatos, possuem função motivadora nos conflitos. Razões psicológicas são despertadas de nosso inconsciente pelos especialistas para que tais informes sejam aceitos como verdadeiros no tempo de guerra: 1) são em parte uma projeção de nossos próprios instintos sádicos em relação ao próximo, que consideramos como "o inimigo", que quase sempre são inibidos pela lei e costumes, e atende a função de, por comparação, fazer-nos sentirmos "bons" e de assim elevar a moral do público; 2) como o homem civilizado foi criado de maneira a achar maus muitos dos atos ligados à guerra, e a própria guerra, estórias de atrocidades agem justificando até certo ponto as coisas desagradáveis que temos que fazer ou presenciar; 3) a mente humana possui uma espécie de molde de tal modo que quando aparecem lacunas devidas à falta de conhecimento a tendência natural é enchê-las com detalhes imaginários para corroborar nossa opinião desfavorável sobre os acontecimentos. 4) por fim, a guerra por sí mesma é uma regressão a padrões mais primitivos de comportamento, um reviver de fantasias primitivas de cunho antropofágico que logo se torna aparente no comportamento de combatentes e não combatentes tanto no campo da agressão como no campo da líbido, de fato, os civis, que tem menos oportunidade de uma válvula de escape, através da ação de combate, são geralmente piores que os militares quando postas em ação as massas para odiar inimigos coletivos.
Sobre a disposição das massas em relação ao direcionamento de seus ódios contra os inimigos nacionais foi Le Bon em 1896, quem pela primeira vez chamou a atenção para o fato de que: "Sejam quais forem os indivíduos que a compõem, quer sejam parecidos ou diferentes seus estilos de vida, suas ocupações, seu caráter, ou sua inteligência, o fator de terem sido transformados em uma multidão coloca-os na posse de uma mentalidade coletiva que os faz pensar, sentir e agir de maneira assaz diferente da forma que cada indivíduo dentre eles pensaria, sentiria ou agiria achando-se isolado".
Sua explicação é baseada nos seguintes fatores: 1) o sentimento de poder invencível que torna a multidão mais primitiva e menos sujeita ao controle pela consciência pessoal ou ameaçada pelo medo à punição; 2) o fato do contágio ou imitação de comportamento social, instinto natural dos primatas; 3) a sugestionabilidade excessiva da multidão reforçada pelo anonimato do indivíduo e do sentimento de permissividade ao observar o comportamento dos outros o que o leva a crer poder sem riscos exprimir emoções e sentimentos normalmente reprimidos que ele teria vergonha de expressar de outra maneira. Em seguida, há a libertação de um sentimento de culpa, ou até mesmo um sentimento oculto inibido desenvolvido a um grau anormal, que se libera quando a culpa total de uma nação é projetada sobre um inimigo externo, tratando-se os mesmos motivadores constituídos de forma análoga ao ódio e aos ressentimentos normalmente disjuntivos da unidade social. Dentro das fronteiras nacionais todos ficam mais tolerantes, mais delicados para com os outros que são congeneres de sua opinião e etnia, a moral sexual convencional desmorona e o índice de natalidade sobe, ao mesmo tempo que os índices de violência, neuroses e suicídio caem. O suicida encontra a possibilidade de voltar sua auto-depreciação para fora e o neurótico encontra terreno fértil no conflito onde pode se sentir útil. Os homens e mulheres comuns sujeitos a empregos frustadores, desempregados ou em situação familiar frustradora encontram nova finalidade na vida, possivelmente um outro trabalho, outro convívio pessoal e liberdade em relação aos vínculos domésticos. Na medida em que os fatos reais são censurados pelos meios de comunicação, espalham-se os boatos, que são compensados pelos toques das fanfarras, pelas canções patrióticas e os discursos vibrantes de lideres políticos e sacerdotes ao garantirem estarem do lado certo da lei e de Deus para fazerem as pessoas sentirem-se bem. Embora essas emoções e vantagens psicológicas se alternem com a fortuna ou fracasso da guerra de cada lado em conflito é possível concluir que muitas pessoas inconscientemente desejam o conflito. Após as duas grandes guerras que ocorreram no século passado muitos confessaram que nunca haviam achado a vida tão rica e significativa como quando estavam combatendo o inimigo. Inibições e dúvidas foram afastadas e as paixões primitivas de ódio a um grupo e amor a outro receberam plena expressão, ao mesmo tempo ficou mais fácil a concentração sem restrições no desempenho de uma atividade profissional repetitiva. A identificação de um objetivo comum, uma grande finalidade comunal, eliminou a mesquinharia particular e o egoismo da vida cotidiana reforçando seus instintos gregários como sensação de integração e significação pessoal nunca antes alcançado.
Foram esses fenômenos de massa que levaram Freud em 1918 a postular um instinto de destrutividade inata, ou instinto de morte, nessa teoria ele descreveu duas pulsões naturais do ser humano: a pulsão de vida ou Eros, e a outra pulsão da destruição irracional que denominou Tanathos. Se o impulso para a morte fosse dirigido para objetos externos manifestava-se como uma ânsia para destruir, enquanto permanecendo dentro do individuo sua meta era a auto-destruição. Em essência a teoria do instinto de morte afirma termos de destruir outros para evitar a agressão a nós mesmos. A teoria não postula a inevitabilidade da guerra, pois os homens possuem muitas maneiras de destruir a sí mesmos e a outros, psicológica ou fisicamente, total ou parcialmente. São muitos os exemplos que podemos destacar no mundo de hoje como a violência das gangues urbanas, as drogas, o alcoolismo e os acidentes auto impostos. Entretanto Freud ficou bastante cético da possibilidade de deter a repetição de grandes conflitos patrocinado pelas nações sem uma força coercitiva que lhes fosse superior.
Essa é uma teoria psicológica deprimente que não é aceita por todos os especialistas de comportamento. Mas ao observarmos os acontecimentos da história recente talvez expliquem-se muitos dos fenômenos psicológicos negativos das guerras advindos das massas quando a agressividade ativa cessa, ou o entusiasmo transforma-se em tédio na medida que nosso lado parece estar perdendo, então surge a ruptura da unidade nacional e o reaparecimento da luta de classes, a cisão dos iniciais grupos de aliados, e o retorno do sentimento de culpa face a conduta na guerra, todos são resultados do pós-guerra que foram observados em duas gerações nos EUA e na Europa.
O Relatório da Montanha de Ferro -
Em 1963, uma comissão de alto nível integrada por quinze eminentes pesquisadores, selecionados por seu alto saber e ilibada reputação começou a reunir-se no local denominado Montanha de Ferro, antigo abrigo antinuclear perto de Nova York, por convocação provável do governo americano em plena "Guerra Fria", para analisar, realística e objetivamente, as conseqüências que advirão para a humanidade se, e quando, for adotado universalmente um sistema permanente de paz.
Após três anos e meio de estudos profundos e de sérias investigações sócio-científicas, o grupo deu por encerrados os trabalhos e emitiu unânime e sigiloso parecer, segundo o qual a paz definitiva, além de provavelmente inatingível, não seria útil à sociedade humana, cuja estabilidade, pelo menos no estágio atual, não pode prescindir da guerra.
"A Paz Indesejável (Original: Report from Iron Mountain, 1969) é o surpreendente e chocante relatório da comissão da Montanha de Ferro tornando ostensivo, sem qualquer corte, e pela indiscrição de um de seus membros alcunhado de "John Doe" que assumindo elevado risco pessoal liberou para a imprensa seu conteúdo. Foi acrescido de material introdutivo com explicações, preparado pelo jornalista do The New Yorker, Leonard C. Lewin..."
Leonard C. Lewin apresenta o livro como um verdadeiro furo de reportagem. Em agosto de 1963, um cientista social o procurou para lhe passar as conclusões do estudo feito por uma comissão da mais alta importância, convocada por Washington, para determinar de forma sigilosa, realística e precisamente, a natureza dos problemas que os Estados Unidos teriam de enfrentar se, ou quando, o mundo atingir uma condição de paz permanente.
No Relatório da Montanha de Ferro, como ficou conhecido, lemos:
"A guerra não é, como geralmente se crê um instrumento de política utilizado pelas nações para expandir ou defender seus valores políticos expressos ou seus interesses econômicos. Ao contrário, ela é por sí mesma , a principal base de organização sobre a qual todas as sociedades modernas estão construídas. A causa próxima comum da guerra é a aparente interferência de uma nação com as aspirações de outra. Mas na raiz de todas as diferenças ostensivas de interesse nacional está a exigência dinâmica do sistema de guerra de conflitos armados periódicos. Prontidão para a guerra é o que caracteriza os sistemas sociais contemporâneos muito mais largamente que suas estruturas econômicas e politicas, aos quais ela inclui".
Podemos refletir sobre o texto conforme foi exposto que o pensamento antropofágico nunca foi tão bem confessado como nessa sentença, de forma pragmática, sem culpa e sem vício aparente, como norma a ser seguida pelos interlocutores de nossa civilização dita democrática. Essa afirmação equivale a noção de incorporar o instinto predador do jaguar expresso por Cunhambebe para Hans Staden. Não foram militares que expressaram essas idéias, mas sim sociólogos, psicólogos e antropólogos da mais alta categoria, civis profundamente preocupados em defender sua cultura contra o assédio na época dos "malvados" comunistas que habitavam o leste da Europa. Os tupinambás tinham a mesma percepção da questão, para eles a guerra era um fim em si.
"A possibilidade da guerra fornece o senso de necessidade externa, sem o qual nenhum governo pode permanecer longamente no poder... A organização de uma sociedade para a possibilidade da guerra é seu principal estabilizador político" (pág. 69).
"Em geral, o sistema de guerra dá a motivação básica para a organização social primária. Desta forma, ele reflete no nível social os incentivos do comportamento individual humano. O mais importante deles, para propósitos sociais, é o argumento psicológico individual para submissão a uma sociedade e a seus valores. A submissão requer uma causa; uma causa requer um inimigo" (pág. 73).
"Um substitutivo viável para a guerra como sistema social não pode ser uma mera charada simbólica. Ele deve envolver um risco factual de destruição pessoal real, numa escala compatível com a envergadura e a complexidade dos modernos sistemas sociais. Credibilidade é a chave... a menos que forneça uma ameaça crível de vida e morte, não satisfará a função socialmente organizadora da guerra. A existência de uma ameaça externa aceita é, assim, essencial à coesão social, bem como à aceitação da autoridade política" (pág. 76).
"A guerra é a principal força motivadora do desenvolvimento da ciência, em qualquer nível, desde o abstratamente conceitual ao estritamente tecnológico... Todas as descobertas importantes sobre o mundo natural foram inspiradas por necessidades militares, reais ou imaginárias, de suas épocas... Começando com o desenvolvimento do ferro e do aço, passando pelas descobertas das leis do movimento e da termodinâmica, à era da partícula atômica, do polímero sintético, e da cápsula espacial, nenhum progresso científico importante deixou de ser, pelo menos indiretamente, iniciado com uma exigência implícita de armamento" (pág. 82).
É indubitável que os saltos de desenvolvimento tecnológico ocorreram durante os grandes conflitos da humanidade. Do invento do ferro até a criação da computação e da internet, o desenvolvimento e aperfeiçoamento da balística que propiciou avanços na pesquisa espacial, o rádio e a televisão, todas essas inovações foram frutos das guerras que mataram milhões de pessoas. O que podemos perceber não é a inexorabilidade desse paradigma, mas sim a forma como os homens em geral e os povos de origem ariana em particular pensam sua cultura, como processo de devoramento (instinto de morte), onde o esforço competitivo só alcança sucesso e desenvolvimento pleno quando envolve conflito e conquista de terras e gentes. Tornar a paz inviável é um esforço hercúleo dessas elites que, como geração mais velha, se esforçam na manutenção do litígio permanente e assim podem desovar seus excedentes de mão de obra mais jovens nas áreas de conflito e com isso diminuir a pressão da competição interna e o desassossego das classes menos privilegiadas em relação a desigualdade da distribuição do capital e do poder. É o velho arquétipo da disputa entre os velhos reprodutores donos do poder versus os jovens reprodutores, relação comum entre os primatas.
"O projeto espacial mais ambicioso e fora da realidade não pode, por si só, gerar uma ameaça externa crível. Argumenta-se, fervorosamente, que uma tal ameaça poderia se constituir na última e melhor esperança de paz, unindo a humanidade contra o perigo de destruição por criaturas de outros planetas, ou do espaço sideral. Foram propostas experiências para testar a credibilidade de uma ameaça de invasão extraterrena; é possível que alguns dos mais inexplicáveis incidentes com discos voadores, nos últimos anos, sejam de fato experiências primárias desse tipo" (pág. 95).
"Um substitutivo político efetivo da guerra exigiria inimigos substitutivos... Pode ser, por exemplo, que a brutal poluição do meio-ambiente possa eventualmente substituir a possibilidade de destruição em massa, através de armas nucleares, como a principal ameaça aparente à sobrevivência das espécies" (pág. 96).
Como fator educacional e de formação de opinião a guerra sujeita a moda, influencia as vestimentas entre os jovens, desenvolve a indústria veicular, a cinematografia e os meios de comunicação da forma mais abrangente possível. Roupas camufladas, veículos 4x4 de grande porte e alto consumo de combustível são vendidos aos milhares, produções cinematográficas onde os vilões identificados com o inimigo vestem longos turbantes e se comportam como mensageiros do próprio lúcifer, e seus jogos eletrônicos correspondentes infestam as telas das casas e salas de exibição, a eterna profecia da guerra total prometida e do fim dos tempos são alardeadas em altos brados por fanáticos adventistas nos templos que mais parecem lojas de consumo religioso, notícias que ridicularizam os comportamentos cotidianos dos inimigos e expõem seus hábitos e vestimentas como exóticas e sua pseudo intolerância contra os direitos de mulheres e crianças são veiculadas todos os dias pela mídia histérica. Assim identificamos algumas das ações primárias daqueles que preparam terreno para insuflar animosidades entre os povos e preparar conflitos de ódio. São especialistas da comunicação a serviço dos seus senhores, as grandes corporações. Onde viceja a guerra vicejam os lucros.
Muitos especialistas alegam que veicular violência nos meios de comunicação e nos jogos eletrônicos ajuda como válvula de escape para liberar pulsões agressivas. Entretanto já existem hoje em dia, pesquisas realizadas por etólogos, os estudantes do comportamento animal e humano, que discordam dessa opinião. Pelo contrário, insistem que incentivar as pulsões agressivas por meios eletrônicos só aumenta a agressividade do espectador. Mesmo que o filme ou jogo eletrônico tenha sido planejado no sentido de descarregar a pulsão, devemos ter em conta que a ativação repetida de um sistema fisiológico tem o poder de colocá-lo em marcha, criando um condicionamento permanente para a violência via ontogênese. Por esta razão imaginar que incentivando as crianças e os jovens a participarem de jogos violentos eles se transformarão em pessoas pacificas no futuro é um sofisma perigoso que peca pela ingenuidade ou má fé. As sociedades belicosas ensinam aos seus membros a serem agressivos e cultivam as práticas de lutas reais ou virtuais. Essa prática cultural implica um condicionamento para a agressão a longo prazo, que hoje pode ser praticada sem maiores remorsos, graças a tecnologia, por apenas o apertar de um botão ou o manejar com perícia um joystick, e ao mesmo tempo procura a catarse interna do grupo a curto prazo. As guerras e os esportes de luta não funcionam como canais alternativos para descarregar as tensões agressivas acumuladas. Mais que alternativas funcionais a guerra e os esportes de luta, e por extensão os jogos eletrônicos cada vez mais reais, parecem ser dentro de uma sociedade componentes de um modelo cultural mais amplo de afirmação dos valores de competição intergrupal tão conhecidos. O que Freud analisou a partir de vivências subjetivas dos instintos primários, Lorenz concluiu das condutas objetivas onde o padrão de cultura e a educação tem um papel fundamental na forma como reagem os seres humanos em relação ao instinto de agressão no seu meio onde o reforço ontogenético influi no filogenético.
"Um substitutivo de qualidade e magnitude críveis, deve ser encontrado, se uma transição para a paz é possível sem desintegração social. É mais provável, a nosso ver, que uma ameça tenha de ser inventada ao invés de ser criada a partir de condições desconhecidas" (pág. 96, 97).
"É inteiramente possível que o desenvolvimento de uma forma sofisticada de escravidão possa ser um pré-requisito absoluto para o controle social, num mundo de paz" (pág. 99).
Como já vimos antes, a escravidão nada mais é do que o viés utilitário do processo antropofágico da cultura ariana, em vez de devorar seus corpos, como produção da mais valia utilizar seus braços cativos, para servirem os povos vencidos como classes indigentes, massa de manobra e estoque permanente de mão de obra que só será descartada quando a automação ocupar suas funções laborais de forma eficiente e lucrativa. Buscam desviar as atenções internas para os inimigos do exterior, para que os menos favorecidos e marginalizados etnicamente olvidem as lutas internas taxadas de impatrióticas pelos seus meios de comunicação.
Considerada obra ficcional pelos seus críticos, o Relatório da Montanha de Ferro poderia ser mais um texto redigido por algum excêntrico, uma teoria conspiratória, como tantas outras, surgida de alguma mente paranoica se na sua essência não contivesse um fundo verdadeiro e os fatos e eventos históricos não tivessem confirmado seu teor verídico de forma precisamente extraordinária. A crise econômica mundial, e seus efeitos diretos sobre os países mais desenvolvidos pode ser uma razão ou causa evidente do atual rufar de tambores que escutamos dessas paragens. Mais uma vez forças poderosas foram colocadas em marcha para demonizar culturas e criar antagonismos. Uma das vantagens de criar mentalidades antagonistas é a polarização. Não podem existir mais que duas opiniões num conflito, as nossas e a dos nossos inimigos. Não existem meio termos.
Essa fórmula do conflito permanente, originada na antiguidade dos tempos, está com seus dias contados. A cultura ariana que sempre foi o importante fator do crescimento tecnológico exponencial da humanidade hoje é a maior ameaça ao meio ambiente planetário. A teoria de conflito permanente já não serviu para alavancar as economias da Europa e EUA. Os recentes conflitos são provas evidentes desse desgaste. Para obter os resultados esperados pelos "especialistas de conflitos" seria necessário o extermínio de grande parte da população do planeta. As armas de destruição de massa tem o defeito de serem utilizadas de forma definitiva o que negaria o objetivo primordial da guerra que é a apropriação, o saque dos bens do inimigo, ou dominação de mercados, negando sua utilidade econômica, e se transformando num tiro pela culatra para os poderosos, os donos dos meios de produção. O grande deus canibal se esconde dentro de nós, infiltrou-se faz pouco nos meios eletrônicos, e hoje transita nas redes sociais livremente a espreita de vítimas.
GUERRA É PAZ ( Afirmava o Grande Irmão em 1984 de George Orwell )
..."há experiência não contaminada pelo passado? Se uma experiência está contaminada pelo passado, ela é, meramente, uma continuidade do passado e, por conseguinte, não é uma experiência original".
( Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano )
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